Foto: Viviane Jobim (Angola)
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O espanto do jovem Melodia diante do amor e das contradições dos anos 70:
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O balanço e a reverência de Ben Jor aos heróis, mártires e líderes africanos:
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O tributo de Simonal a Martin Luther King:
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Bilex tinha esse apelido por causa do cantor americano que era sucesso nas rádios de então, o Billy Eckstine.
Estamos em meados dos anos 50.
Curioso pensar que só hoje, quase seis décadas depois, me dou conta que nunca soubemos o verdadeiro nome do amigo de infância.
Para nós – e todo o sempre -, será Bilex e ponto e basta.
Era negro, patoludo, desajeitado no futebol de rua; mas, porém, contudo, todavia, um notável ‘inventor’ de histórias ou estórias (como se pretendeu escrever então).
Dois ou três anos mais velho do que nós, os garotos sonhadores da rua Muniz de Souza, no bairro operário do Cambuci, em São Paulo de antigamente.
Pouquíssimas famílias, raríssimas mesmo, desfrutavam do luxo do aparelho de TV próprio. O rádio era a fonte de entretenimento que, mal ou bem, rivalizava na nossa imaginação com o que víamos nas matinês de domingo no Riviera ou no Clímax ou no cineminha improvisado das noites de quinta-feira na sede do Santos Futebol Clube do Cambuci, lá na quebrada da rua Apiaí.
De dia corríamos atrás da boa de borracha nos campinhos vadios. Corríamos até nos esfolarmos todos. À noite, banho tomado, roupa trocada, íamos nos encontrar nas escadarias da Escola do Senai para, à moda dos locutores de rádio, ouvirmos as estórias que o Bilex contava.
Ele nos transformava em uma legião de heróis destemidos. Não importava que fosse o Paulinho Da Bahia, o mulato Claudinho e seu irmão Toínho, o galego Nestor, o sarará Tinho, os branquelos Betão e Tchinim, o italiano Giusepe…
Não importavam cor, credo, raça…
Nada.
Éramos um bando de iguais.
Bastava sentar ali em um dos degraus – e pronto: virava um dos nossos.
O bem sempre vencia o mal.
Éramos todos irmãos e parceiros – e, acreditem, no Universo prosperava a paz, a fraternidade e a justiça social.
Bilex nos propunha a utopia.
Nós, acreditávamos piamente.
Ele tinha o dom, um grande contador de causos.
Pena que não era profeta…
Viviane
21, novembro, 2019Seu lindo!!!!