IV.
Vale dizer que a meninada aí de cima não trazia em si qualquer traço de rebeldia juvenil. Mesmo a letra de um dos primeiros hits, “Rua Augusta” – ‘entrei na rua Augusta a 120 por hora’ – era mais uma alegoria do que propriamente retratava a realidade da época. Seu autor era um cinquentão, maestro Hervê Cordovil, pai de Ronnie Cord, o intérprete – a saber, no registro de nascimento, Ronaldo Cordovil.
Caras e bocas de James Dean passavam longe desse pessoal, quando muito suas atitudes proclamadas em filmes como “Juventude Transviada”.
O máximo que os rapazes se permitiam era caprichar na brilhantina para segurar um empinado topete, à la Elvis, sobre a testa. As moças não iam além da meia soquete e dos banhos de Lua, propostos pela canção de Celi Campello.
“Biquíni de bolinha amarelinha tão pequenininho” era mais promessa do que atitude.
Tempos ingênuos, de sucessos rápidos que se sucediam e se substituíam implacavelmente.
V.
A década de 60 era mesmo uma era de mudanças.
Logo quatro cabeludos de Liverpool trouxeram um novo layout para sonoridade dos jovens.
Trouxeram também outras novidades: o fim do topete e o aparecimento das madeixas longas para os marmanjos.
Tinham também um jeitão iconoclasta de se trajar.
A princípio, foi um furor menos avassalador do que o surgimento, anos antes, de Elvis Presley – penso que nem os jovens daqui os entendiam direito.
No entanto, os Beatles se revelaram um fenômeno, digamos, mais duradouro.
VI.
Foi inspirada mais nesses e mais remotamente em Elvis que, aí sim, surge a segunda geração do rock tupiniquim.
O grande diferencial se dá quando a música popular brasileira ganha a cumplicidade da televisão.
As transformações aparecem com o sucesso do primeiro festival da canção na TV Excelsior. Revela ainda uma cantora esfuziante, Elis Regina, entre outros de uma geração inigualável.
A partir daí, sim, se dá o terremoto cultural. Que não deixa pedra sobre pedra sobre o estabelecido e o convencional.
* Amanhã continua