Não estranhem.
Sou um poço de dúvidas, vocês sabem.
Vejam o que hoje me aconteceu.
Pela manhã fui entrevistado sobre a realização do Mundial no País.
O fato de dar aula de Introdução à História do Jornalismo Esportivo, no pós da Faap, faz com que estudantes e jovens jornalistas imaginem que eu tenha opinião formada sobre tudo o que acontece no mundo esportivo.
II.
Pois então…
Bati duro já na primeira pergunta:
– O senhor é contra ou favor a Copa no Brasil?
Minha resposta foi mais ou menos na seguinte linha:
“Sou contra. Desde o início achei que existiam outros tantos países mais bem estruturados para bancar um evento desse porte. A Inglaterra, por exemplo.”
“No Brasil, sempre soubemos, tínhamos outras prioridades – saúde, educação, moradia, transporte, emprego. Mas, não era apenas esta questão que me incomodou. O que sempre me incomodou era quem estava à frente da organização da Copa, mais precisamente os senhores da Fifa, da CBF, as promessas eleitorais (o tal legado para a sociedade que não veio, e não virá), os interesses globais e assemelhados. Em nenhum momento, confiei no ‘mimimi’ dessa gente.”
A derrama do dinheiro público era mais do que previsível, disse.
“Por tantas e tamanhas, sempre fui contra a Copa no Brasil – e ponto.”
– Haverá algum legado, insistiram.
A resposta seguiu na mesma linha, embora simples e direta.
“Sim, ficaremos com uma péssima imagem lá fora.”
III.
– E quanto às possibilidades da seleção brasileira ser campeã?
Mudaram de assunto, mas eu continuei o ranzinza.
“Não vejo um favoritismo tão gritante. Vejam o que aconteceu com os times brasileiros que participaram da Libertadores. Todos foram eliminados. Nossos craques não são tão diferenciados assim. Lembrem-se que o nosso goleiro perdeu a titularidade em um time que joga na segunda divisão da Inglaterra e hoje atua no Canadá. O Brasil está entre as 10 melhores equipes das 32 que participam.”
– E a torcida?
“É uma faca de dois legumes, como diria o saudoso Vicente Matheus. Se tudo der certo, joga a favor. Se as coisas não saírem a contento, melhor não esperar para ver.”
– Tem algum palpite?
Seco e grosso, como bom descendente de calabrês:
“Não”.
IV.
Entrevista encerrada. Volto à minha mesa de trabalho. Teclo enter e a tela do computador se ilumina – e lá está um recado na agenda. Tenho outro compromisso inadiável nesta sexta – e já estou atrasado. Corro ao Ginásio do Ibirapuera para retirar meus ingressos para os jogos da Copa.
Sou mesmo um poço de dúvidas.