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"Pois fique"

É inevitável, penso, chegar à pacata vila de Arraial D’Ajuda e não se abandonar à tola ilusão de se imaginar por ali pelos restos de seus dias. A tentação frequente em urbanoides, como eu, que ali despencam esverdeados e songas pela rotina diária de compromissos e tarefas.

Arraial, vocês sabem, fica nos arredores de Porto Seguro, perto de Trancoso, Cabrália (a dos alemães, ui, ontem fez um mês que levamos aquela sapatada de sete a um) e outros paraísos daqueles confins da Bahia.

Sei que há os que se fixam por ali, mas há que se ter coragem para ser um hiponga em pleno século 21. Só assim faz sentido viver por ali sem negócios, sem posses, sem terno e gravata, sem as notícias do dia, sem eira, nem beira; livre, enfim, do estresse e da lida diária.

É mesmo um sonho, um devaneio, um delírio, uma alucinação, uma fantasia que Vinicius pespegou em versos referindo-se a outro rincão baiano:

“Um velho calção de banho
O dia pra vadiar
O mar que não tem tamanho
Uma preguiça no ar”

(Tarde em Itapuã)

Não sei, não. Por vezes, me pego a divagar sobre essas (remotíssimas) possibilidades.

Como seria?

Quanto tempo eu aguentaria?

II.

Meu amigo Poeta morou lá na virada dos anos 90.

Disse que, assim como eu, foi passar uns dias lá apenas para dar uma “desanuviada”. Encantou-se com o lugar. Mar e sol, todos os dias. À noite, ficava a flanar pelos bares e as rodas musicais.

Nesses volteios diários, conheceu Thaisa (morena bonita, que exigia o t e o h na grafia do nome) e, entre um xaveco e outro, confessou que, por ele, nunca mais abandonaria o lugar.

“Pois fique” – foi a resposta da moça.

E o Poeta ficou. Por ano e meio. Era jovem e inconsequente. Tinha tempo para perder e ganhar na vida. Pensava em abrir uma pousada e cousa e lousa e mariposa. Mas, só voltou mesmo porque o marido da moça, um marinheiro arretado, voltou de uma longa viagem – e descobriu a patacoada.

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