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É quinta-feira

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Foto: Arquivo Pessoal

No tempo da velha redação de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor, toda quinta era assim: dia de fechamento do jornal (que circulava às sextas) e lá eu vivia meu drama e a instigante aventura de levar as notícias da semana às rotativas para dar forma e conteúdo à pujante Gazetinha.

Resumo das minhas tarefas e obrigações.

  1. Como editor:

Acompanhar a dança das horas (e dos prazos), olhos atentos ao fluxo das páginas, uma a uma, a caminho da grande-máquina impressora.

2. Como colunista:

Pinçar no noticiário da semana o assunto mais relevante para que fosse base do meu texto.

Tão aflitivo o desafio quanto apaixonante.

“O jornalismo é uma cachaça”, dizia o Marcão, meu primeiro editor que, registre-se, gostava de ambos, sem primazias.

De alguma forma, quase trinta anos nessa rotina, ainda hoje quando acordo, às quintas, imagino viver um dia especial e que, mesmo com o ir-e-vir dos compromissos (ou à falta deles), tudo vai sair a contento.

E, como naquela antiga canção do Peninha (“Sonhos”, lembram?), ao fim do dia, “eu serei mais feliz”.

Seremos todos felizes, imagino eu.

Tenho para mim que aqueles foram os grandes anos da minha lida.

É basicamente uma sensação nostálgica de estar num lugar onde fui integralmente o que sempre gostei de ser.

Não que fosse tanto.

Mas, me era suficiente.

Tinha grandes e inesquecíveis amigos por perto.

Enfim…

Quinta, 29 de junho de 2023.

Lá se vão 20 anos que disse adeus à velha redação para enfrentar, em tempo integral, o desafio da Academia, onde fiquei outros 20 anos. Também fui feliz e fiz outras tantas e perenes amizades.

Comecei em 1998 e, por cinco anos, tentei conciliar os dois trampos.

Curioso que, por um bom tempo, não conseguia me habituar a ser chamado de ‘professor’.

Sempre me senti um jornalista, mesmo na sala de aula, no campus.

Era como passar o bastão para a meninada nessa inquietante prova de revezamento chamada vida.

Sei lá…

Ainda ontem estava lendo uma coletânea de crônicas do grande Rubem Braga e me deparei com a seguinte reflexão:

“Sou um homem quieto, o que eu gosto é ficar num banco sentado, entre moitas, calado, anoitecendo devagar, meio triste, lembrando umas coisas, umas coisas que nem valiam a pena lembrar.”

Daí me veio a memória das quintas-feiras dos mais antigos dos anos…

Ainda nenhum comentário.

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