Foto: Arquivo Pessoal
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Meus queridos,
Era recém-chegado à universidade.
Mal sabia me orientar pelos corredores dos diversos prédios do campus em busca da sala onde daria aula de Linguagem Jornalística.
Outro professor, o Marcelo Pimentel, havia chegado meses antes. Não lembro bem qual a disciplina que ministrava.
O jornal feito pelos estudantes (o Rudge Ramos Jornal) era a menina dos olhos do Jornalismo cinco estrelas da Instituição. Uma marca registrada e um diferencial do curso em âmbito nacional. Saía semanalmente com 25 mil exemplares. Distribuição gratuita para significativa parcela da população de São Bernardo do Campo.
Um jornal-laboratório de fazer inveja a outras instituições de ensino. Também – e principalmente – por onde, inicialmente, se encaminharam muitos e muitos nomes que aí estão à frente das diversas plataformas de Imprensa.
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Uma inesperada mudança na gestão da instituição.
Ocorrem mudanças em todos os escalões de chefia – eis que, para surpresa geral, sou guindado a professor-editor responsável pelo jornal e o amigo Pimentel, o editor-assistente.
Assumimos sob olhares incrédulos e desconfiados.
A professora anterior, Katy Nassar, era reconhecida no meio acadêmico e comandara o jornal, ao lado de outros nomes, por 16 anos.
Ela que me indicou à nova diretora, Graça Caldas, para a função. Assim nos passou o bastão e a responsabilidade num ambiente, diria, algo tumultuado.
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Chamei o Pimentel para um café e uma conversa. Afinar as diretrizes do novo – e para nós, histórico – momento.
Como faríamos?
Pimentel, um carioca de araque, nascido em Caraguatatuba, boa praça que só e cheio do sotaque, chegou chegando:
– Meu querido, dei uma circulada por aí e posso lhe dizer: estamos causando. Somos a bola da vez.
Eu, dando uma de desentendido:
– Como assim, Marceleza?
– Assim, ó… Na Sala dos Professores, comentam que a Katy e os demais colegas tocaram o projeto por 16 anos…
– E?
– Apostam que, se a gente se segurar por 16 dias, tá de bom tamanho!
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Caímos na gargalhada.
O que mais poderíamos fazer?
O Pimentel ficou por uns três anos como editor-assistente. Deixou a universidade em busca de outros ares. Mas suas tiradas me são inesquecíveis:
– Não me pergunte quem botou fogo no mar. Eu quero mais é comer peixe frito.
Eu toquei o RRJ por cinco anos e, na sequência, assumi a coordenação do curso de Jornalismo para arrepios generalizados, e lá fiquei por mais 13 longos anos.
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Lembro essa historieta para lhes dizer que – assim desprentenciosamente, mas na fé – chegamos hoje aqui no Blog à improvável soma de 3900 posts.
Como jornalista, adora um número redondo para dele fazer notícia, não resisti.
No estilo Marceleza, eu os saúdo aí do outro lado da telinha, meus queridos. Pois faça chuva, faça sol, noite e dia, os considerados resistem em me acompanhar nesses quase 14 anos de alinhavar de letrinhas, uma após outra, que não tem finalidade outra senão a de saudar a amizade sincera, um novo tempo e a inevitável construção de um Brasil justo, solidário que alcance e contemple a todos os brasileiros.
Saúdo também a mim; se não pelo talento, ao menos pela insistência.
Sigamos, pois… Rumo ao post de número 4000.
(Isso é um desejo, não uma ameaça, ok?)
Continuem me querendo bem que não custa nada.
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Ainda bem que sempre existe outro dia.
E outros sonhos.
E outros risos.
E outras pessoas.
E outras coisas…
(Clarice Lispector)
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O que você acha?