Foto: Ministério da Cultura de Portugal
…
Meus caros e preclaros.
Vamos nos levantar – e, de pé, aplaudir a poeta poeta mineira Adélia Prado que é a grande vencedora do prêmio Camões, o mais importante reconhecimento da literatura em língua portuguesa, edição 2024.
Registre-se que a láurea chega uma semana depois de Adélia Prado ser agraciada com o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, que também contempla autores pelo conjunto da obra.
…
“Foi com muita alegria e emoção que recebi, hoje, dia 26 de junho, um telefonema da senhora Dalila Rodrigues, ministra da Cultura de Portugal, me informando que fui agraciada com o Prêmio Camões. Estava ainda comemorando o recebimento do Prêmio Machado de Assis, da ABL, e agora estou duplamente em festa. Quero dividir minha alegria com todos os amantes da língua portuguesa, esta fonte poderosa de criação”, disse em nota à Imprensa a poeta escritora de 88 anos que vive na pequena Divinópolis (MG).
Para os notáveis que formaram o juri do Prêmio Camões, “Adélia Prado é autora de uma obra muito original, que se estende ao longo de décadas, com destaque para a produção poética. Herdeira de Carlos Drummond de Andrade, o autor que a deu a conhecer e que sobre ela escreveu as conhecidas palavras ‘Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo…‘, Adélia Prado é há longos anos uma voz inconfundível na literatura de língua portuguesa”.
…
Aplaudamos, pois, amigos.
Bom escrever sobre o melhor do Brasil, não?
Dá uma arejada nos ares e em nossas vãs esperanças.
Tem mais, gente boa:
Ainda neste ano Adélia Prado vai nos trazer um título inédito, a coletânea de poemas “Jardim das Oliveiras”, editada pela Record.
…
Um poema de Adélia Prado
COM LICENÇA POÉTICA
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.Mulher é desdobrável. Eu sou.
*Publicado em “Bagagem”, seu livro de estreia, 1976. Obra reverenciada com entusiasmo por Carlos Drummond de Andrade. Ninguém me confirmou, mas desconfio que ele também se levantou – e, de pé, aplaudiu a promissora chegada de Adélia Prado à Literatura.
…
O que você acha?