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Prêmio Camões para Adélia Prado

Foto: a escritora Adélia Prado/Divulgação/Biblioteca Nacional

Momento

Enquanto eu fiquei alegre,
permaneceram um bule azul com um descascado no bico,
uma garrafa de pimenta pelo meio,
um latido e um céu limpidíssimo
com recém-feitas estrelas.
Resistiram nos seu lugares, em seus ofícios,
constituindo o mundo pra mim, anteparo
para o que foi um acometimento:
súbito é bom ter um corpo pra rir
e sacudir a cabeça. A vida é mais tempo
alegre do que triste. Melhor é ser.

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.

Mulher é desdobrável. Eu sou.

Foto: Agência Gov

Faço minha singela reverência à poetisa mineira Adélia Prado que, nesta semana (na terça, dia 18), recebeu o Prêmio Camões de Literatura 2024 em cerimônia realizada no Palácio do Itamaraty (Brasília) que contou com as presenças do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na ocasião, Adélia Prado foi representada pelo filho Eugênio Prado.

Declaração do marido de Adélia, José Prado,à Imprensa, justificou que a poetisa aos 89 anos “não tem condições para enfrentar uma viagem mais longa, por isso enviou o filho Eugênio co o seu representante”.

“Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo.”

Carlos Drummond de Andrade

Leia também:

Poesia de Adélia Prado torna o cotidiano universal, político e social

TRILHA SONORA, de hoje:

Os poemas de Adélia Prado – ‘Momento’ e ‘Com Licença Poética’ – integram o livro de estreia da autora, Bagagem, publicado em 1976.

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