Assisto ao programa do Jô e o vejo dizer-se melancólico, triste até, ao deparar-se, nos jornais e na TV, com as imagens da prisão de José Dirceu e José Genoíno, acusados de corrupção pelo Supremo Tribunal Federal, entre outros ‘mensaleiros’. Impossível dissociar da biografia de ambos o passado de luta, por vezes até com riscos de morte, pela redemocratização do País em um passado não muito distante, é o que Jô nos lembra com outras palavras.
O apresentador, que ontem reuniu uma plêiade de mulheres jornalistas para debater os fatos do último fim de semana, se disse admirador de ambos em outros tempos, e lamentou profundamente o rumo que tomaram em sua recente trajetória na vida pública.
Lamentou ainda que eles se apresentem como “presos políticos”. Um equívoco para Jô, pois são, sim, “políticos presos” por tudo que (supostamente) aprontaram no exercício do Poder.
Ele e “as meninas” tergiversaram por hora e tanto sobre o assunto, sem maiores novidades e aprofundamento. Em suma, bateram na tecla de que, pela primeira vez no Brasil, se fez justiça e políticos poderosos foram parar na cadeia.
II.
Confesso que reparti, por esses dias, a mesma sensação de desconforto e apreensão em conversas com alguns bons amigos. Só que temos outras aflições. Preocupa-nos o teor de linchamento público que se dá ao caso, com forte participação – e exacerbado interesse – da mídia conservadora.
Esperava que, pela (suposta) natureza jornalística do programa, se apresentasse ali o que chamamos nas redações de “o contraditório da notícia”. Que, por exemplo, se discutisse ali ou apenas fossem citados apenas alguns tópicos da ótima coluna (Supremo Tapetão Federal), assinada pelo jornalista Ricardo Melo, na Folha de S.Paulo de domingo.
Desisti do programa quando uma das participantes – Liliam Witte Fibe – destacou o quanto foi emblemático o gesto do presidente do STF, Joaquim Barbosa, assinar os mandados de prisão dos ‘mensaleiros’ na sexta-feira, 15 de novembro:
— Ele proclamou outra vez a República.
Tive a sensação de estar assistindo a uma típica mesa redonda de futebol, onde, uns mais outros menos, todos os contendores torcessem pelo mesmo time.
III.
Ainda dentro desse tema, e para compensar, recomendo a coluna de hoje de Élio Gaspari, na mesma Folha de S.Paulo:
Roma, setembro de 1944: ‘Bem feito’
Há ainda o post de Gilberto Dimenstein, hoje, na Folha.com:
Não seria melhor executar o Genoíno
IV.
Acho que desta forma equilibramos – ou quase? – o jogo entre a Opinião da Patota versus Esclarecimento Público.