Dormi pouco naquela noite, de 9 para 10 de março de 1974.
No dia seguinte, começaria a trabalhar em Gazeta do Ipiranga – e, pela primeira vez, seria identificado na minha carteira de trabalho como jornalista.
Uma proeza.
Não conto os dias – coisa de duas semanas, se tanto – que perambulei pela redação do Diário da Noite.
Foi exatamente isso que aconteceu.
Sem registro e a título de experiência, perambulei por ali atrás de notas para uma coluna social que, se eu não me engano, chamava-se Koisas com K.
Dessa vivência, deu pra sacar o que eu não queria fazer na profissão.
Correr atrás de socialite.
Agora seria diferente. Seria repórter, de um jornal de bairro.
Teria que retratar o dia-a-dia dos moradores do Ipiranga. Falar de suas reivindicações, de seus anseios, dos problemas da região, das instituições locais, os clubes de serviço, as associações.
Lembro da primeira lição do velho Marques, um dos donos do jornal. Experiente jornalista de tantas jornadas e lutas:
— Somos o porta-voz da região.
Para que melhor eu entendesse, ele explicou ao lado do filho, o AC, o editor do jornal.
— Você deve ter aprendido na universidade que os pilares do jornalismo são o respeito à verdade, a função crítica e a função fiscalizadora. Não é assim?
Concordei com a cabeça, mas tinha á minhas dúvidas. Nas aulas, os professores não tinham tamanho poder de síntese. Falavam, falavam, citavam dois, três autores. Mas, em resumo, era isso mesmo.
Alheio ás minhas dúvidas, o Marques continuou:
— No jornal de bairro, temos obrigatoriamente um quarto pilar: promover a integração de todos, em torno de um ideal comum. Dar vez e voz aos menos favorecidos, eis o nosso maior desafio.
O Marques era um sábio. Falava em cidadania, comunitarismo, jornalismo participativo, responsabilidade social; tudo o que hoje se ouve tanto falar.
E lá se vão 36 anos…