Foto: Arquivo Pessoal
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O pai era um cara feliz.
(A seu modo, entenda-se.)
Como disse o poeta, o Velho Aldo não fazia questão de ter razão.
Preferia as coisas simples, sensatas e sinceras.
Grandes dramas não eram com ele.
Aos 82 anos – a idade com que se foi – derretia-se diante da penca de netos quando esses o visitavam no pequeno apartamento alugado, no bairro do Planalto, em São Bernardo do Campo. Divertia-se a valer nas rodas dos amigos em meio ao grupinho de aposentados que batia ponto na padaria chamada Tranza (“Olha a ironia, filho”) ou junto à banca de jornal do sr. José.
O pai não era de muito falar.
Mas, eu o entendia pelo brilho do olhar, pleno de vivacidade, nessas ocasiões.
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Por que lembro o Velho Aldo neste post/crônica?
Explico.
Vai em alta a discussão das bets nesses dias conturbados.
O Governo assustou-se com a notícia que milhões e milhões do dinheirinho do Bolsa Família migram, via Pix, direto e reto para desenfreada jogatina eletrônica.
Um horror.
Virou caso de saúde pública.
Será que só uma rígida regulação nos basta?
Pelos tentáculos planetários das tais operadoras, a proibição pura e simples parece impossível.
Que enrosco!
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Ops…
Falei, falei… e ainda não expliquei o que o Velho Aldo tem a ver com a história.
Simples.
O pai adorava um joguinho. Era seu lazer e entretenimento.
Nada de baralho. Não curtia a jogatina pesada, noites e noites insones no repicar das cartas.
Seu babado era, vez ou outra, ele arriscar na Loteria Federal e mesmo no Jogo do Bicho.
– Qualquer dia eu quebro a banca!
Doce e inatingível ilusão.
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A preferência das preferências, meus caros, era fazer uma fezinha nos cavalos de corrida.
Adorava.
Inclusive lhes digo que eu o vi radiante de felicidade numa tarde de sábado quando fomos ao Jockey Club.
Parecia uma criança num movimentado parque de diversões.
Andava para lá e para cá. Falava com todo mundo.
Na hora do apronto, corria para próximo da pista.
Apostava uns trocados – e, no decorrer do páreo, era todo empolgação.
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Quando jovem, o pai trabalhou numa casa de jogos.
Casa Lopez.
Ficou sem emprego quando proibiram os jogos de azar no Brasil.
Achou a decisão tacanha e burra.
– Empurrou a jogatina para a clandestinidade. Entregou o ouro aos bandidos.
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Amigos.
Sou um homem simples, do bairro operário Cambuci, que nada sei da vida (apenas que é uma só e passa tão rápido que a gente nem sente), não sei bem o que lhes aprofundar sobre o tema.
Entendo mesmo que seja uma questão de âmbito social num país de desvalidos e esperançosos.
Do jeito que está, creio, não pode ficar.
Os tempos são outros – e, por vezes, inapelavelmente mais cruéis.
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O que você acha?