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Quase tudo sobre Benjor

A chuva fina me surpreendeu na padaria, aqui ao lado do prédio onde trabalho. Dei uma escapada para um café rápido e uma espairecida para por as idéias no lugar.

Imediatamente lembrei-me de uma canção do Benjor – uma das raras que não virou hit e muito provavelmente a única que tem uma levada triste.

Desconfio que se chama Zé Canjica e a letra diz assim [vamos ver se me lembro]:

Está chovendo
E a chuva vai molhar alguém
Que outrora caía toda molhada
Nos braços meus
Não pode ser
É difícil acreditar
Mas assim é que tem de ser…

Pois eu já não sou
O namorado do meu amor
Mas, é que eu já não sou
O namorado do meu amor…

Como vocês podem perceber, pelos versos acima são continuidade de Que Maravilha que Benjor fez em parceria com Toquinho no início dos anos 70. O compositor vivia um momento luminoso. Depois de estourar nas paradas com Mas Que Nada, Por Causa de Você e Chove Chuva, viajou para os Estados Unidos, onde tentou fazer uma carreira internacional. Quando voltou, curtiu uma fase de anonimato até que foi redescoberto por Elis Regina que o levou para o programa que comandava na TV Record, O Fino da Bossa. Ali fez um relativo sucesso com a canção Bicho do Mato, mas logo se mandou de mala e violão para o Jovem Guarda, comandado por seus amigos da Tijuca, Roberto e Erasmo Carlos. Vez ou outra dava uma canja em outro programa da emissora, Show em Symonal, outro amigo das quebradas do Rio de Janeiro.

Foi na voz de Wilson Simonal que emplacou dois retumbantes sucessos, Zazueira e País Tropical. A primeira ganhou repercussão internacional quando Herp Albert a gravou nos Estados Unidos. País Tropical virou uma espécie de hino nacional suingado por ser uma crônica do Brasil daquele período.

Benjor enfileirava um sucesso atrás do outro: Se manda, Bebete Vambora e Crioula (na voz do autor), Que Pena (Gal Costa), Charles Anjo 45 (Caetano), Cadê Tereza (Originais do Samba), entre outros.

Dava a entender que os planetas alinharam-se e conspiravam a favor de Benjor (à época ainda Jorge Ben). Nas temporadas que fazia no Jogral (famosa casa noturna paulistana, ali na rua Avanhadava) era acompanhado pelo Trio Mocotó e, embora não fosse um esplendor de santidade, vivia um grande amor. A musa de todas as canções da época Tereza Domingas Aparecida, que certamente o inspirou em Que Maravilha e agora lhe dava triste motivo para uma nova canção:

Pois é que eu já não sou
O Zé Canjica do meu amor…
Eu sei que minha maré não está para peixe
Mas eu não vou desistir de pescar
Por que ainda resta em mim
Um fio de esperança
E a vontade de viver
Pra conseguir conquistar
Novamente ela.
Só ela…

Como profetizou a canção, os dois reataram, casaram-se e têm dois filhos: Tommazzo e outro que eu esqueci o nome…

Putz, pensei que soubesse tudo de Benjor…

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