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Quem se beneficia com a omissão dos eleitores

01. As eleições de 4 de outubro nos legaram diversas — e contudentes — lições. A que mais chama atenção é a descrença de mais de um terço do eleitorado na política e nos homens públicos. Foram nada menos que 38 milhões de votos nulos, em branco e abstenções. Um índice bastante significativo, principalmente se considerarmos que o candidato presidente reeleito foi pouco além dos 35 milhões de sufrágios. Se a matemática não me faltar, significa dizer que algo em torno de 68 milhões de brasileiros disseram não ao governo Fernando Henrique — e, mesmo assim, o homem foi eleito no primeiro turno, com ampla margem…

02. A bem da verdade, são critérios eleitorais que, jogo jogado, não nos cabe questionar. O que preocupa, porém, é o crescente desapego do homem comum às propostas que nossos pseudo-representantes levam ao ar, diariamente, via horário eleitoral gratuito. Um desapego, aliás, que acaba pondo em xeque a democracia. Não existe democracia sem representatividade popular. À medida que abrimos mão do direito de votar e escolher quem vai tomar a frente do destino da Nação, estamos corroborando, queiramos ou não, para que se perpetue o equívoco de que o brasileiro não sabe votar e não se interessa por política. Esse estado de letargia interessa — e muito — a quem aposta no retrocesso ou àqueles que circulam ao redor do Poder e não abrem mão dele, seja quem for o ocupante do Palácio do Planalto. E eles estão lá, convenhamos, não é de hoje…

03. Dá para entender as razões que levam um eleitor a jogar tudo para o alto e preferir não votar em ninguém ou nem aparecer para votar. Não dá para justificar essa omissão. Mas, entende-se a partir do próprio comportamento dos eventuais candidatos. O antes e depois do pleito é revelador. Antes, o eleitor é soberano. Promete-se tudo para a melhoria da qualidade de vida — e não há limites para obras, nem recessão ou FMI que segure o trololó desenvolvimentista e social que se ouve nos discursos e nos clipes de TV. Depois, bem, depois é diferente. Vale o jargão — "Política é arte de administrar o possível". Compreende-se então que as promessas não são prioridades. Veja o caso das reformas estruturais que o País tanto almejava antes da crise mundial. Foram preteridas pelo projeto de reeleição e postergadas até que veio o "boom" das Bolsas e o mundo entrou em parafuso. E o governo arrumou uma boa desculpa para todas suas derrapadas.

04. Um bom exemplo de como espantar eleitores está ocorrendo na disputa pelo governo de São Paulo. Os dois candidatos, assim que confirmados no segundo turno, já trataram de retomar a campanha. Mas, não com projetos e propostas. Mas, sim, desancando o futuro adversário. De um lado, a turma do Bem; do outro, o Mal declarado. Um é do time do "rouba, mas faz". O outro é o "não rouba, mas não faz". Quem tanto anunciou "chega dos mesmos" agora está do lado de um deles. Renegou inclusive sua opção partidária. Sem contar a suspeita fortíssima de que um dos candidatos só chegou ao segundo turno empurrado pelas pesquisas e pelos meios de comunicação. E continua o chumbo trocado… E o eleitor acaba mesmo aceitando a máxima de que "são todos farinha do mesmo saco". Daí, é um passo desacreditar do processo eleitoral e, conseqüentemente, da nossa tenra democracia.

05. Apesar de tudo, o voto é nosso único instrumento para mudar e construir o Brasil de todos os brasileiros.

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