Entrevistar Cid Moreira foi uma aventura.
Ele estava lançando uma série de CDs em que narrava passagens da vida de Cristo.
Só que o apresentador tem histórias e mais histórias sobre os bastidores do rádio e da TV que levavam os repórteres para longe da pauta dos assuntos bíblicos, motivo da coletiva.
Um exemplo.
Era Cid quem dava a cara para bater quando, nos primórdios do Jornal Nacional, as coisas não saíam exatamente como estava previsto na lauda – naquele tempo, não havia telepronter.
Ele, todo solene, cabelos já levemente tingidos com uma seiva de babosa, anunciava a posse de um presidente – e, no vídeo, aparecia uma vaca mugindo, parte de uma outra reportagem qualquer.
As câmeras se voltavam para ele que, sem perder a pose, sacramentava:
— Desculpem a nossa falha!
Bordão que se consagrou tempos afora…
II.
Foi um dia tenso na Redação.
Choveu muito.
Ruas alagadas, trânsito caótico e uma grave ocorrência.
As paredes e os muros de uma antiga fábrica caíram em cima de alguns veículos que estavam parados na avenida do Estado. Esperavam abrir o sinal na pista centro-bairro, ali no cruzamento com o Viaduto Pacheco Chaves.
Eu e o fotógrafo Anísio Assumpção chegamos ao local – e vimos cenas tristes.
Preferi não ver a retirada do corpo do motorista de um caminhão que estava sob os escombros.
Escrevi a reportagem ainda chocado com o que vi. Mas, sobretudo, a fragilidade da vida humana e o efêmero da vida de cada um de nós.
III.
À noite, estávamos, quase todo o pessoal da Redação, no Teatro Itália.
Sobraram convites para uma das tantas reestréias de Os Mistérios de Irma Vap, com Nanini e Ney Latorraca.
Acho que nunca ri em tanto com uma peça de teatro.
Vá entender, ladeira abaixo, a vida de um repórter das antigas…
* FOTO NO BLOG: Jô Rabello