"Meu pai era jornalista, e eu comecei logo a ouvir a conversa em torno de jornalismo. Naturalmente porque os jornalistas costumam muito conversar sobre a atividade, talvez mais do que outros profissionais. Eu comecei desde menino a ouvir falar de jornalismo, fato este aliás que me levou inicialmente a pensar que eu jamais seria jornalista, eu não queria ser jornalista. De mais a mais, impressionado pelas brigas que caracterizavam a vida familiar, nas quais a minha mãe recriminava o meu pai pelos horários malucos que tinha, voltas para casa de madrugada, etc, etc, etc. E eu no fundo no fundo teria desejado uma vida mais mansa do que meu pai, de tal sorte que o meu começo é realmente de pensamentos voltados para outra atividade que não o jornalismo. Depois, por volta de 1950, quando eu tinha 15 anos, aconteceu no Brasil o campeonato mundial de futebol, e eu tive a chance de entrar numa equipe que ia cobrir este campeonato. Entrei nela fascinado pela perspectiva de ganhar algum dinheiro. Ai, logo surgiram possibilidades de colaboração em alguns jornais e revistas, sempre em função da perspectiva de ganhar algum dinheiro, sendo que eu, afoito e infeliz, evidentemente pretendia casar-me cedo (idéias malucas típicas da juventude de vinte ou trinta anos atrás) aí eu comecei a topar essas colaborações e coisa e tal. Aos poucos, eu fui deslizando para a profissão. Lá pelos 18, 19 anos já estava trabalhando com jornalismo."
Iniciamos hoje — e concluímos amanhã — a publicação de longa entrevista com o jornalista Mino Carta, feita nos anos de chumbo da ditadura militar no Brasil, precisamente em janeiro 1978, o ano em que tudo começou a virar.
O encontro aconteceu na então Redação da Revista Isto É, na avenida Paulista. Dele participaram o amigo e jornalista Clóvis Naconecy de Souza e o repórter-fotográfico Cláudio Michelli.
Foi uma lição de jornalismo que repasso a vocês.
Recém-saídos do curso de jornalismo da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, tocávamos à época nosso próprio jornal: o glorioso Jornal da Mooca, um combativo tablóide quinzenal, com 10 mil exemplares. Que, se não nos deu um trocado sequer, ao menos embalou nossos anseios profissionais e sonhos, digamos, juvenis por dois anos.
Valeu a experiência.
Valeu o encontro que você lê no ícone REPORTAGENS, com o título original:
"Você já leu este homem"