Desde a semana passada, um recorte de jornal está a me provocar – e pedir publicação. Os tons sépia da cópia e a ilustração da velha máquina de escrever sugerem um passado bonito, bom de recordar. Já o arrazoado de letrinhas finge não estar nem aí. Mas, traz em si uma ameaça:
— Cuida que posso desaparecer de novo – e aí?
Vou lhes contar. Trata-se de uma coluna Caro Leitor que escrevi em 23 de janeiro de 1981, um texto que me é caro, pois fala da escola onde estudei, dos tempos de criança e das comemorações do IV Centenário de São Paulo.
Quando escolhi os textos para a coletânea de crônicas que lancei em 1997 – Às Margens Plácidas do Ipiranga, meu primeiro e até agora único livro –, queria por que queria incluir esse artigo. Mas, por uma dessas ‘brincadeiras’ do acaso, não consegui encontrá-lo e, olhem, tinha à minha disposição o arquivo inteiro do jornal.
Maluquice, né? Mas, foi exatamente o que aconteceu.
Publiquei o livro e esqueci do artigo. Os anos se passaram – tantos, quantos. Mudei eu, mudou você, mudou São Paulo. Mas, na essência, continuamos os mesmos. É assim e sempre será…
Devaneios à parte, eis que, em meio à correspondência de janeiro, me aparece um envelope desses comuns, sem remetente. Não lhe dou nenhuma atenção. Havia chegado de viagem – uma muvuca só de jornais, revistas e cartas – muitas, quase todas comerciais. O ‘bolo’ de contas a pagar me cobrou atenção imediata – mesmo que, posteriormente, retardasse a ação do pagamento. Mas, isso é outra história…
E o envelope ali! Quase, quase o chuto para o lixo sem sequer abri-lo. Imaginei uma dessas ‘correntes da felicidade’ e…
Bem, vamos encurtar essa história. Noite dessas abri o dito-cujo e lá estava o Caro Leitor. Brincadeiras do acaso ou alguma boa alma – provavelmente, leitor do blog – que soube do meu interesse em resgatar velhas publicações.
Não sei – e não saberei. De qualquer forma, agradeço penhoradamente.
Fiquei tentado a esperar pelo 25 de janeiro de 2008 para publicá-lo; aniversário da cidade e tal e cousa e lousa e mariposa. Dava pinta até de um sujeito organizado a planejar o blog com um ano de antecedência. Estava preste a dar parabéns a mim mesmo. Mas, deu um vento e o tal voou para os confins da estante, como a dizer:
— Cuida que posso desaparecer de novo – e aí?
Aí, que resolvi publicá-lo hoje mesmo.
Dizem que recordar é viver.
Então…
Tomara que gostem!
Postei na seção PARANGOLÉS.
Divirtam-se!