Tinha boas referências de Aix en Provence como uma das mais ricas cidades da Provença no âmbito cultural, artístico e arquitetônico. Lá, inclusive, nasceu e morreu o pintor Paul Cézanne que, registre-se, tem monumento alusivo à sua memória em um dos jardins da Place de la Rotunde.
Foi com essas perspectivas, do tal mergulho cultural, que chegamos à cidade em uma das tardes ensolaradas de janeiro.
A procura por um hotel razoável – e compatível aos nossos bolsos – demorou mais do que imaginávamos. Até ajeitarmos nossos trens no Hotel Morzat – “olha o nome do hotel, aqui se respira cultura”, me disse um amigo – foram horas perambulando pelas arredores do centro antigo.
Nessas idas e vindas, perdemos a hora do almoço – os restaurantes fecham às 15 horas impreterivelmente e só reabrem para o jantar às 19 – e tivemos que nos virar com uma lanchonete, especializada em comida turca e assemelhadas, tão comum naquela área do sul do França.
Não fiquei nenhum pouco chateado.
Fui direto ao assunto assim que entrei na casa, nem me dei conta de que estava longe do Brasil:
— Para mim, um kebab, por favor!
Ao me ouvir, o simpático atendente também não se fez de rogado:
— Brasiliano? Welcome, bienvenido…
Diante da minha surpresa, e pelos risos dos que me acompanhavam, reforçou todo o conhecimento que gostaria de demonstrar sobre o nosso País:
— Neymar, Romário, Ronaldo… Futbol…
E desandou a fazer perguntas sobre a Copa do Mundo, com vivo interesse de quem planejava estar entre nós em 2014. Não me perguntem o idioma que o homem atarracado e falante usava, pois não saberei lhes dizer. Estava entre o inglês macarrônico (melhor que o meu, diga-se) e o portunhol afrancesado. Eu lhes respondia na base das mímica e com abanos de cabeça:
— Sim, sim, não não… Oui, oui… Je ne c’est pas…
Um português, ali radicado, que assistia a cena hilariante, resolveu intervir:
— Ele quer saber se o Brasil é seguro… A gente ouve tantas coisas por aqui. Fica sempre aquele temor…
Outro abano de cabeça como resposta.
Sei lá o que o chapeiro entendeu da minha resposta ao portuga. Mas, seja o que for, ele resolveu declarar para quem torceria, caso aqui viesse:
— Marrôco, Marrôco, Marrôco, cantarou como se estivesse no estádio.
O cara era marroquino, pode?
— Mas, e se o país dele não se classificar, para quem ele vai torcer, resolvi provocar.
Os dois trocaram algumas palavras que, sem apertar a tecla SAP, pude entender perfeitamente.
Ele torceria pelo Messi, “o melhor jogador de todos os tempos”.
Senti o golpe, e resolvi mudar de assunto:
— Vamos falar de arte, de Paul Cézanne, por favor…