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Relatos de um viajante parvo (Pucon-2)

A voz, vinda do alto da montanha, aterrorizou a moça, e congelou o gesto.

Era um enorme condor, senhor de todos os céus e picos naqueles parques, a lhe fazer a reprimenda em tom ameaçador.

Mesmo assustada, a jovem não se fez de rogada. Contou, entre lágrimas, o drama que lhe afligia e motivo de tamanho arroubo.

Precisava daquela planta para salvar a vida do homem que amava.

– Mas, então, em nome dos meus domínios, sou obrigado a lhe propor uma troca – disse o condor.

E continuou, fascinado pela beleza da moça e enraivecido de ciúmes:

– Se você retirar a flor do seu lugar, terá que deixar aqui o próprio coração.

A jovem mapuche não vacilou. Arrancou a flor com uma das mãos no mesmo instante em que as garras do condor lhe arrancava o coração.

Foi inapelável a queda da jovem e águas cristalinas daquele rio ficaram manchadas pelo sangue daquele vão sacrifício.

Antes que a triste notícia chegasse ao lugarejo, o rapaz também morreu.

Todos na aldeia ficaram desolados com as perdas

(…)

Quando raiou a primavera, os índios mapuches tiveram uma surpresa, quase uma recompensa. Pelos campos, nos arredores das margens do rio, surgiram centenas e centenas de amancays. Lindas, viçosas…

Espalharam-se desde então naquele rincão ao alcance de todos – e não mais unicamente em pontos distantes, no alto das cachoeiras.

Logo os mapuches reparam que as vibrantes pétalas amarelas, agora exibiam gotículas e filetes nas bordas em tons grenás. Todos entenderam que tal fenômeno foi uma forma da Mãe-Natureza eternizar o amor dos jovens mapuches que, de alguma forma, permanece vivo naquele lindo canto do mundo.

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