Breves relatos de Rubem Braga, recolhidos do livro Recado de Primavera, em reverencia ao ano do centenário do venerando cronista brasileiro:
BELO-HORIZONTEM
A empregada de um amigo meu explicou a um alguém que o procurava:
– Ele não está não senhor, ele viajou ontem.
– Viajou ontem? Para onde?
– Belo-Horizontem
A LÍNGUA
Conta-me Cláudio Mello e Souza. Estando em um café em Lisboa a conversar com dois amigos brasileiros, foram eles interrompidos pelo garçom, que perguntou, intrigado:
– Que raio de língua é essa que estão aí a falar, que eu percebo tudo?
A FOGUEIRINHA
Alguém me conta a história de um homem velho que ele viu sentado à porta da casa em uma hora de sol, fazendo uma fogueirinha de gravetos. Passou e deu bom dia. O homem respondeu. Então ele perguntou de brincadeira:
– Está se aquecendo?
O homem respondeu:
– É.
– Mas por que é que você fez esse fogo? Faz sol…
O velho ergueu os olhos tristes:
– Porque é bonito, e me faz companhia.
A INESQUECÍVEL BEATRIZ
Quem sou eu em sua vida? Penso tranquilamente: nada, quase nada. Alguém que ela encontrou ao dobrar uma esquina e a acompanhou… lembro-me, eu devia leva-la apenas uma quadra adiante, porque nossos rumos eram diferentes. Mas, a companhia era boa – fui um pouco mais adiante, era bom andar ao seu lado na penumbra, eu era o Caminhante Premiado Pela Doce Companhia, fui andando. Quando nos separamos, foi sem mágoa – Seja feliz! Seja feliz! Dissemos isto com tanta vontade que acho que, afinal, temos sido felizes.