Encontro no sebo perto de casa uma edição de 1980 do livro “A Disciplina do Amor”, de Lygia Fagundes Telles. Um achado! Tem capa dura, verde escura, com filetes dourados; iguais ás dos livros que, na adolescência e juventude, retirava nas bibliotecas públicas da Aclimação e do Ipiranga, para alimentar os devaneios próprios às idades.
Não resisto à tentação de dividir (dividir, não, Rodolfo; o termo agora é COMPARTILHAR) com vocês brevíssimas especiarias que, de lá, retirei.
Deliciem-se!
Reler Lygia é encantar-se. Sempre…
I.
“Você está sempre indo de um lado para o outro, você não para, mas afinal, do que você está fugindo? – perguntou H.H. Riu. – Seja o que for essa coisa da qual você está fugindo, acho que ela nunca vai te alcançar. ”
II.
Releio alguns trechos ‘Do amor’, do padre Antônio Vieira, e vou enrolando nos panejamentos barrocos, fico esférica, subo em espiral. Anoto: “O amor deixará de variar se for firme, mas não deixará de tresvariar se é amor”.
III.
(As confissões de Santo Agostinho)
“Tarde eu te amei, beleza tão antiga e tão nova. Eis que habitavas dentro de mim e eu lá fora a procurar-te! ”
IV.
“Nascer no Brasil até que é bom, meu querido. O triste é não ter voz. Nem ter vez. ”
V.
“Achiles-Cléophas Flaubert, pai de Gustave Flaubert, reunia os filhos todas as noites para contar-lhes histórias, podiam desabar os maiores imprevistos, mas a hora mágica era preservada. A dura infância de Machado de Assis era doce quando Madrinha contava histórias. As crianças não ouvem mais histórias? Eram crianças que se sentavam em redor do pai, da mãe, da vó e ficavam ouvindo histórias de gnomos da floresta e fadas, gigantes e princesas que falavam e saíam da boca rosas e pérolas. Das princesas ruins, saíam cobras e sapos. Histórias do arco-da-velha – nunca mais? O imaginário se desenrolando como uma fita cintilante. As crianças não sabem mais inventar: ficam paradas diante da televisão, vestem roupa padrão do Super-Homem e apontam para os adultos suas metralhadoras de plásticos. ”