Não vou lembrar ao certo em que ano foi.
Sou pré-era google; portanto, péssimo com datas.
Fim da década de 70, certamente.
A indústria fonográfica vivia o auge em plagas nativas.
Estávamos entre as quatro maiores praças do mercado mundial.
Era um lançamento atrás do outro; de todas as vertentes, de todos os gêneros.
São Paulo era o epicentro de toda a movimentação, a plataforma de todo e qualquer lançamento em disco e/ou shows. Aqui, estavam instaladas as sedes das gravadoras multinacionais, os melhores estúdios, as casas de espetáculos, os escritórios dos empresários, além da efervescente noite paulistana.
Como repórter na área cultural, minha incumbência era cobrir as novidades da MPB.
Dia sim e outro também, lá estava eu a entrevistar um dos protagonistas da cena musical.
Podia ser um dos nomes consagrados ou um promissor talento ou uma das lendas vivas da nossa música.
Naquela tarde do ano que se perdeu no tempo, eu vi chegar uma delas ao saguão de um grande hotel da metrópole. Era um senhor elegante, com um indefectível bigode, que se destacava em meio ao ruidoso grupo músicos que acabava de chegar; deviam vir de algum ensaio.
Não o reconheci de pronto.
Eu estava ali à espera de um amigo, o assessor de imprensa, Artúlio Reis.
Aliás, foi do próprio Artúlio que, instantes depois, desfiz minhas suspeitas e ouvi uma das raras verdades definitivas que conheço:
— Aquele é o Billy Blanco, autor do verso mais bonito do nosso cancioneiro popular.
E cantarolou:
“Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor”
* (Da canção “A Flor e o Espinho”, parceria com Nélson Cavaquinho e Alcides Caminha.)
** Foto: Jô Rabelo