Encontrei hoje um velho
bloco de anotações que guardo,
com certo carinho.
Foi em suas páginas que
esbocei, com meus garranchos
e rabiscos, a estrutura do que
hoje é nosso site/blog.
Fosse aonde fosse, ia comigo
o caderninho de capa preta
para eventuais registros
de idéias e causos.
Com o passar dos dias,
na medida em que transformei
em posts as breves notas
e/ou lembretes, risquei
as páginas com um enorme X,
como a sinalizar:
— Missão cumprida!
II.
Ao folheá-lo hoje eis que
sou surpreendido, com uma
tarefa ainda a cumprir.
Em uma das páginas, sem
o dito X, leio apenas a palavra:
RESPOSTA
Sob ela, dois fortes traços
a lhe dar o destaque devido
e uma inegável urgência que,
sem quaisquer explicações,
acabei por lhe negar.
Assaltou-me uma sincera dúvida
e outras tantas inquietações.
Mas que destaque e urgência
seriam esses que hoje não
consigo reconhecer?
III.
Pela firmeza das linhas,
pela aparente pressa com que
a escrevi, deveria ser algo que
não deixasse qualquer
vestígio de dúvida.
Sobre o que penso,
quem sou e, quiçá,
para onde vou.
Mas, ponderemos…
O que penso sobre o quê, cara pálida?
Sobre o balafom dos protestos
contra a visita de Bush a São Paulo?
Impossível.
Isto aconteceu ontem e hoje –
e a nota é talvez do fim-do-ano,
pouco antes até.
Sobre a pobreza de espírito
de alguns seres viventes que
se imaginam e acham?
Pouco provável.
Pois são tantos e tais
e tão vulgares que sequer
merecem atenção e espaço
neste blog encantado.
Sobre alguém que merecesse
doces palavras e declarações?
Se assim fosse tenho certeza
que não teria perdido um segundo
para a resposta. E hoje certamente
me lembraria de pronto.
Afinal, essas pessoas são
inesquecíveis – e, triste, triste,
cada vez mais raras.
IV.
Talvez fossem mais existências
minhas preocupações.
Me inquietaria saber quem sou?
Não tenho tais veleidades.
Basta-me o verso de Álvaro de Campos.
“Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim
todos os sonhos do mundo”.
Ou me valho da auto-definição
de Carlos Heitor Cony.
“Sou apenas um anarquista
inofensivo e triste”.
V.
Restou, então, a questão
transcendental:
— Para onde vou?
Bem, por enquanto, esta
fica mais fácil responder.
Não vou a lugar algum, meus caros.
Cheguei agora. E tenho tanto
trabalho a fazer ainda hoje,
vocês nem acreditam…
De qualquer forma, vou me livrar
do tal caderno. Vai que saltem,
de suas páginas, outras divagações
para as quais não tenho, não tive
e nunca terei respostas.