Texto publicado pela revista Afinal, em outubro de 1986, sobre o lançamento do jornal, Retrato do Brasil, assinado pelos jornalista Raimundo Pereira. O primeiro número circulou no dia 7 de outubro, com 12 páginas e uma tiragem inicial de 50 mil exemplares.
* Retrato do Brasil tem sua redação em São Paulo. E, logo de início um grande desafio a vencer: fazer com 60 jornalistas o que os diários convencionais fazem com 600. “Por isso tem características editoriais bem particulares”, explica seu editor chefe, Raimundo Rodrigues Pereira. “Não será um jornal de serviços, com suplementos dedicados às empresas, à informática. Ele será compacto, eminentemente noticioso e analítico, com as editorias de praxe: internacional, política, economia, cultura. Refletindo sempre o momento que vivemos.”
Segundo Raimundo, é nesse contexto que o periódico difere do Jornal da República e dos Semanários Opinião e Movimento, embriões do RB. “Eles foram publicações específicas de um determinado período histórico, já superado, enquanto Retrato do Brasil é bem de hoje, refletindo o momento de transição que marca o fim do regime militar.”
A idéia de lançamento de um jornal diário, nasceu em 1981, quando um grupo de jornalistas e intelectuais, que saíam do Jornal da República e do Movimento, recém-fechados, começaram a encontrar-se para uma avaliação da situação do País, e do comportamento da chamada grande imprensa, “de tendência nitidamente conservadora. Concluímos então”, explica Raimundo, “que era necessário um esforço concentrado para a criação de um novo jornal diário. A partir daí, o grupo passou a discutir o projeto e a viabilizá-lo política, econômica e industrialmente.”
A fase seguinte foi a criação da Política Editora, que logo lançou no mercado a coleção de fascículos Retrato do Brasil, um notável sucesso editorial. Apenas o fascículo sobre a Constituição alcançou a marca dos 3 milhões de exemplares. Esse sucesso gerou recursos para que, no primeiro trimestre deste ano, tivesse início a montagem da equipe da redação e o projeto do RB ganhasse contornos ainda mais nítidos.
O jornal – anunciam os editores –se propõe a “esclarecer a opinião pública com objetividade e precisão sobre as questões essenciais, independentemente de paixões ou interesses”. Mantendo acima de tudo um compromisso com a verdade “porque ela é transformadora”. E parte de um ponto de vista absolutamente cristalino: um programa em defesa da ampla democratização do País. “Um novo jornal para um novo Brasil, apesar das forças conservadoras”, define Raimundo.
Além de Raimundo Rodrigues Pereira, são sócios-fundadores do RB: Mino Carta (criador do Jornal da Tarde e Jornal da República e das revistas Veja, Isto É e Quatro Rodas), Elifas Andreatto, Eurico Andrade, Fernando Morais, Flávio Andrade, Hélio Bicudo, Luiz Gonzaga Belluzo, Nirlando Beirão e Raimundo Faoro.