Acompanhei um grupo de estudantes de jornalismo que, na manhã do dia 5 de abril de 2006, visitou o Departamento de Jornalismo da TV Globo, em São Paulo.
Andamos para lá e para cá, conhecemos as instalações, os estúdios. Conversamos com os profissionais que preparavam os telejornais vespertinos.
Lá pelas tantas fomos convidados a acompanhar a chamada “reunião de caixa” que pautaria o Jornal Hoje daquele dia.
Uma belíssima experiência a ser vivida in loco pelos futuros profissionais.
A “reunião de caixa” é na verdade uma videoconferência em que os editores responsáveis, sediados em Sampa, passam em revista os assuntos sugeridos pelas diversas praças onde a Globo tem sucursal.
Elas que abastecem o noticiário do dia.
“Salvador, o que temos de novidade por aí?”
Aparece na tela (a caixa), em circuito interno, o jornalista na Bahia que informa os fatos e as reportagens do dia.
O garimpo do que entra e do que não entra fica por conta dos editores daqui.
“Fala BH!”
– Blábláblá…
“Manda aí Belém!”
E mais blábláblá.
Brasília, Fortaleza, Porto Alegre, Curitiba…
E assim foi a reunião, na flauta, até que chegamos ao Rio de Janeiro.
A editora carioca caprichou na lista prováveis reportagens que poderiam ser veiculadas. Já estava se despedindo quando lembrou uma informação que, de tanto se repetir, talvez não interessasse mais.
— É que ontem à noite – disse ela – o palhaço Carequinha foi internado no hospital. Não sei se vale a pena ‘cobrir’. Ele está com 90 anos e, todas as semanas, vai parar no hospital que, aliás, fica em frente a casa onde mora…
Neste exato instante, entra um repórter afoito nos estúdios e dá a notícia:
— Morreu o palhaço carequinha. Foi agora, no hospital em frente à casa dele.
Vinte segundos de silêncio, literalmente, sepulcral – e logo se agitaram todos os setores do jornalismo para dar a notícia: confirmar o falecimento com o hospital, interromper a Ana Maria Braga para o primeiro anúncio, produzir uma nota com imagens para o boletim informativo que chama o JH, revirar arquivo para uma matéria mais bem produzida tanto para o JH como para o JN e equipes de reportagens na rua para apuração e depoimentos sobre um dos grandes nomes da nossa arte circense.
Por tudo que testemunharam, os jovens voltaram da Globo com a sensação de terem vivido uma experiência única, enriquecedora.
Uma lição de jornalismo.
Entenderam ali, na lata, que o bom profissional não pode nunca subestimar a informação.