Nesta semana, Roberto Carlos voltou a se defender das acusações de ter menosprezado Tim Maia nos áureos tempos da Jovem Guarda, quando o Rei estava por cima da carne-seca e Tim voltava dos Estados Unidos mais por baixo do que pé de mesa.
A história das desavenças de ambos, desde os primeiros tempos, é mais do que manjada no meio artístico. Ganhou projeção ainda maior por conta do filme sobre a vida de Tim Maia e a interferência da Globo quando mostrou a obra em horário nobre no início do ano.
Vou dar meu pitaco, mesmo sem ser chamado, porque a crônica é feita de ‘pitacos de vida’ e o Blog não pode parar.
II.
Seguinte:
Roberto não é santo.
Tim Maia, também não.
O diretor do filme aproveitou o babado para carregar nas tintas.
E a Globo…
Bem, a Globo é a Globo e faz o que bem entende com as coisas que lhe caiam nas mãos.
O que significa isso?
Tentarei explicar.
III.
Roberto tinha compromissos demais – inclusive com patrocinadores como a Shell -, apresentações demais, fãs demais, gravações demais, amigos demais, uma agenda lotada demais, para dar atenção ao enorme talento de Tim Maia e paparicá-lo e acolhê-lo no cast do programa da Record.
Tim chegou a participar do Jovem Guarda.
Mas, as pessoas se esquecem – ou não sabem mesmo – que, nesta altura do campeonato, o intérprete de Primavera já morava, em São Paulo, no mesmo apartamento que Eduardo Araújo que, à época, comandava um programa equivalente na TV Excelsior, chamado O Bom. Tim Maia, digamos, era o Erasmão de Araújo e a saudosa Silvinha era a equivalente a Wanderléa.
Roberto, por força de contratos e da fama, precisava posar de bom moço. Tanto que até o seu casamento com Nice, uma mulher desquitada, causou muita polêmica naqueles idos de 60.
IV.
Nem Roberto, nem ninguém tinha qualquer ascendência sobre Tim. Ele sempre foi imprevisível. E, por obra e gosto do próprio, sua fama não era das mais recomendáveis.
É certo, porém, que era dono e senhor do seu destino.
Fazia o que bem entendia – e ponto.
Este era o seu fabuloso barato.
Não iria se enquadrar no esquema da Record, a toda poderosa da época.
Alguém imagina Tim Maia de smoking cantando no Show do Dia 7?
Sem chance.
V.
Para refrescar a nossa memória, convém lembrar que, bem depois disso, e ainda desenvolvendo uma carreira absolutamente instável, Tim Maia deu grandes chapéus na Globo. Tanto que seu nome foi solenemente limado para qualquer atração da grade.
Um exemplo: o maravilhoso cano que ele deu no programa Chico & Caetano. Ensaiou no dia anterior e faltou no dia da apresentação. Os donos da atração se divertiram ao apresentar cenas do ensaio que foram gravadas e comentar o fato.
No Especial de Benjor, Tim apareceu na maior sem decorar a letra da música que cantaria em dueto com Benjor. Passou o tempo todo, improvisando (divertidamente) em cima do nome da canção, “Lorraine”.
(Tem no Youtube, vejam e comprovem!)
O mais famoso dos cambaus foi o que Tim deu no Programa do Fautão, deixando o apresentador pra lá de Bagdá com ele.
Ô loco meu!
VI.
O filme sobre Tim Maia não é exatamente a real biografia do cantor/compositor. Foi inspirado no livro do Nélson Motta, mas o diretor ficou livre para contar a história que quis contar.
Forçou um tanto a barra ao ‘caricaturar’ Roberto, com trejeitos e maneirismos.
Não sei se acertou ou errou a mão.
Mas, penso que o próprio Tim, se vivo fosse, iria se divertir com o deboche e toda essa polêmica.