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Robôs vs. repórteres

Respondo ao Luciano, um dos meus cinco ou seis fiéis seguidores (ui!) aqui no Blog. Ele não é do ramo, mas se diz preocupado com os rumos que segue o jornalismo atualmente e, pior, com a possibilidade de robôs substituírem os repórteres nas redações.

Como diria Jack, o esquartejador, vamos por partes.

Também me preocupa o atual momento do jornalismo. Mais do que o futuro, eu diria.

E explico.

Hoje fala mais grosso a voz do Dono e quase não se ouve o que tem a dizer o
Dono da voz.

Dá para entender?

Se não tiver em sintonia (ou conivência) com a verdade ab soluta dos proprietários dos grandes conglomerados de comunicação (e, portanto, com os interesses desses), o jornalista, creiam, terá pouquíssimo espaço para viabilizar o seu trabalho.

Por isso, há uma onda, cada vez maior, de os novos jornalistas investirem em uma carreira solo, fora das chamadas “grandes redações”. O desafio dessa turma – o bem-vindo desafio – é inventar o próprio espaço.

De outro modo, não creio tanto assim na eficácia das novas tecnologias para dimensionar o futuro do jornalismo.

Mudam as plataformas, ok, mas em nada se alteram os pilares básicos, essenciais, ao que se convencionou chamar bom jornalismo. Aqueles mesmos que não canso de falar em sala de aula e, mesmo aqui, no Blog, já escrevi dúzias de vezes ou mais.

A saber:

– o respeito à verdade factual

– a postura crítica

– a função fiscalizadora

“Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados”, como disse lá pratrazmente Millor Fernandes.

II.

A essência de tudo, meu caro, ainda continua sendo a boa e velha REPORTAGEM (grafo em caixa alta para que não haja dúvida): o repórter na rua, apurando os fatos, ouvindo as fontes, checando suas inquietações e a verdade que levanta a cada passo que dá, a cada entrevista que faz.

O repórter como mediador das demandas sociais. A colocar o interesse comum à frente de qualquer outro interesse – inclusive, os pessoais e/ou os que ‘patrões’ defendem (e como defendem!).

Eis o verdadeiro jornalismo de ontem, de hoje e de sempre.

III.

Robôs podem ajustar este e aquele dado, fazer esta e aquela conexão e aprontar um lead correto, impessoal, legível. Mas, alguém precisará abastecê-lo com essas informações e com a interpretação contextual que advém da ocorrência do fato.

Responda-me aí, caro Luciano:

Quem fará isso, com precisão e coragem?

Quem irá pautar a máquina?

Quem vai hierarquizar essas informações?

Quem será o historiador do cotidiano?

*amanhã continua…

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