IV.
Sempre que converso sobre este assunto (a robotização dos jornalistas) me vem à mente a célebre capa do livro A Regra do Jogo, do inesquecível Cláudio Abramo.
A capa exibe uma foto do grande mestre a enfrentar a sua brava Olivetti, com a cabeça erguida, a refletir sobre o que estava escrevendo e informando.
É o retrato de uma época, de um jornalismo compromissado e algo romântico, ok; mas feito com alma, engajado na luta diária pelo bem-comum.
Estou sendo um tanto piegas, mas vá lá…
V.
Hoje, o que se vê nas redações é justamente o contrário. A rapaziada está acoplada à máquina, é quase uma extensão do computador. Ora pendura-se no telefone, ora consulta as tais redes sociais, ora volta a teclar. Muitos exibem coloridos fones de ouvidos que os ausenta da convivência com os iguais na árdua lida pela notícia em tempo real.
As jornadas são longas, e penosas.
Não os culpo, mas me preocupam.
Se não tomarem tento, logo estarão eles próprios transformados em robôs, prestes a serem descartados pelo “núcleo duro do poder” (e toda a redação tem o seu, não se iludam) assim que novos modelos saírem das fábricas – ou melhor, da universidade.
VI.
Não é um panorama dos mais alentadores, digo sempre aos meus pares, aqui, na Universidade. Mas, penso, tende a mudar. Penso também que há infinitas possibilidades de se praticar um bom jornalismo mesmo fora das redações famosas.
O empecilho é como ganhar dinheiro (monetizar, como dizem os especialistas) com essas novas possibilidades que se apresentam, seja em qual for a plataforma, digital ou não.
A questão financeira, aliás, assusta também (e, eu diria, principalmente) os grandes grupos de comunicação.
A bem da verdade, não temos certeza alguma sobre o futuro do jornalismo.
Só sabemos que não vai desaparecer.
O mundo só existe pra gente e a gente só existe para o mundo se nos informarmos sobre ele.
*amanhã continua…