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Romance

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Foto: cena do filme Manhattan, 1979. Com Woody Allen e Mariel Hemingway

Que roteiro, hein!

Assim…

Então, houve a separação.

Ele relutou em aceitar.

Saiu magoado.

Ela, porém, estava decidida.

Não queria o cinza/convenção dos dias iguais.

Dizia-se aliviada.

– Foi gostosinho.

Valeu. Tchau!

Ele insistiu por um tempo.

Desesperou-se até.

Viu que nada adiantaria.

Conformou-se.

Deixou que o tempo passasse o pano.

Seguiu seguindo.

Ela também foi por caminhos e descaminhos.

Mil e um planos.

Conhecer outros mundos.

Sentir-se livre, leve e solta.

De quando em quando, pensava nele.

Pensava com carinho.

Já dizia o Poetinha:

São demais os perigos dessa vida.

E digo eu:

Nunca é exatamente como a gente quer e/ou imagina.

Foram felizes aqui e ali. Cada qual a seu modo.

Tomaram outras tantas trombadas.

Que afinal assim é que é.

Mas, vou lhes contar um segredo:

Ainda sonhavam com um final-feliz.

Se não feliz_feliz_feliz.

Ao menos, feliz.

De quando em quando, raro, se falavam.

Trocavam mensagens (porque hoje é inevitável).

Vez ou outra, ainda tentaram se encontrar.

Conversaram sobre amenidades. Coisiquinhas que não pesam e não entristecem.

Cuidaram para não estragar o momento.

Vou-lhes dizer porque ouvi a ambos:

Até se entenderam tão encantados como nos primeiros dias.

Ela até brincou:

“Parece que a gente nunca se separou.”

E ele pra ele mesmo:

“Vai entender, as mulheres?”

Aliás, entre um enrosco e outro, ela até ensaiou uma volta.

Ele ficou todo-todo, mas não se iludiu.

Conversaram sobre…

Mas, o tempo é inexorável.

Senhor de todos os destinos.

Não tiveram a ousadia, a insensatez, o delírio de consumar o ato.

Na hora H do dia D, faltou coragem.

Uma noite dessas, madrugada, ele acordou aos sobresaltos.

Foi para a varanda do apartamento e, ali, ficou a olhar a cidade vazia.

Distante dali, ela dormia o sono dos aflitos. Sonhou com ele.

– Foi gostosinho.

Desconfio que ainda não se deram conta que:

ELE não é ELE sem ELA.

ELA, por mais que teime em duvidar, também não é ELA sem ELE.

Mas, acreditem incautos leitores, não há risco de happy end.

Explico:

Na verdade, eles não existem.

Quer dizer, não têm vidas próprias.

São personagens de um filme do Woody Allen.

Um filme que Allen nunca escreveu.

Mas, bem que poderia…

Um adendo:

* Crônica feita a partir  da entrevista de Woody Allen,  publicada no El País. Se quiser inspirar-se… leia AQUI

 

 

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