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Ruth Escobar

“Morreu nesta quinta-feira por volta das 13h30 a atriz e produtora cultural Ruth Escobar, aos 81 anos de idade, um dos grandes nomes do teatro brasileiro. Ela estava internada no Hospital 9 de Julho, em São Paulo, mas a causa da morte ainda não foi divulgada. O velório será no teatro quem leva o nome da atriz, na capital paulista”

(…)

Deu hoje no Uol.

E cá estou a perder o chão na espiral da memória.

Tempos sombrios aqueles – os anos 70.

A ditadura mostra sua face mais truculenta. Prende, tortura, mata a quem ousa enfrenta-la.

Lembro os versos de uma triste canção a retratar aqueles dias:

“Você me prende vivo, eu escapo morto”.

II.

Outra lembrança que agora me envolve: o Teatro Ruth Escobar, ali, na rua dos Ingleses, como ponto de resistência à opressão e aos desmandos dos Donos do Poder.

Em seu emaranhado de salas, salinhas e salões, era possível ver peças (como “Escuta Zé Ninguém”, com Rodrigo Santiago e Marilena Ansaldi) e shows musicais (como os do cantor Taiguara) que nos iluminam e nos fazem acreditar – a nós, os jovens de então – que o sonho da redemocratização é, sim, possível.

Em outro verso a mesma canção entoa:

“O que o muro separa, uma ponte une”.

III.

Lá também trombamos com um insólito Plínio Marcos a vender os livros de sua autoria em meio à movimentação de espectadores na portaria e no saguão do teatro. As filas, por vezes, são longas – e uma conversa com o dramaturgo, sempre um aprendizado.

A Plínio, impõe-se o carimbo de ‘maldito’ ou o de ‘perseguido’ pelos ditadores de plantão e seus asseclas. Não lhe deixam espaço para os seus textos nos jornais e nas revistas. Diante da mão pesada da censura, o figura se arranja como pode.

No fim da noite, o jantar no Gigetto, para ele, sai na faixa. Cortesia da casa. Mais que merecido.

IV.

É das portas do centro de cultura, arte e esperança, que sai uma considerável leva de sonhadores rumo à Praça da Sé em 25 de janeiro de 1984 para o comício histórico das Diretas-Já.

À frente de todas essas iniciativas, Ruth Escobar, extraordinária atriz portuguesa, com alma, coragem e coração brasileiros.

  • Dina Sfat, Raul Cortez e Ruth, entre os sonhadores de 84.

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