Foto: Divulgação
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Deixar o vale foi a coisa mais difícil que já fiz. Lembrei-me do tapa (verso) que minha avó costumava recitar: “Nenhum patchum deixa sua terra por vontade própria/Ou ele a deixa por pobreza, ou por amor”. Mas estávamos sendo expulsos por um terceiro motivo, que o autor do tapa nem podia imaginar: o Talibã.
Deixar minha casa foi como ter meu coração arrancado do peito. Fui até o terraço, olhei as montanhas, o monte Ilam de pico nevado, onde Alexandre ergueu a mão e tocou na estrela de Júpiter. Olhei para as árvores, todas com folhas novas. O damasqueiro, cujo fruto outra pessoa talvez comesse. Tudo estava em silêncio, um silêncio absoluto. Não havia barulho vindo do rio ou do vento; nem mesmo os passarinhos cantavam.
Fiquei com vontade de chorar, pois eu sentia, no meu coração, que talvez nunca mais visse minha casa de novo. Os documentaristas me haviam perguntado como eu me sentiria se algum dia deixasse o (o vale do) Swat e nunca mais voltasse. Na época eu tinha considerado idiota a pergunta, mas agora percebia que tudo aquilo que eu não conseguia imaginar que pudesse acontecer acabara acontecendo. Pensei que minha escola não poderia fechar, e fechou. Pensei que jamais sairíamos do vale e estávamos prestes a fazê-lo. Pensei que o Swat um dia ficaria livre do Talibã e que iríamos celebrar, mas agora me dava conta de que isso talvez não acontecesse. Comecei a chorar. E foi como se todos estivessem esperando uma pessoa chorar para também fazer isso.
Quando Mel, a esposa de meu primo, também começou a chorar, todos nós estávamos aos prantos…
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* Relato extraído do livro Eu sou Malala – A história da garota que defendeu o direito à Educação e foi baleada pelo Talibã. Por Malala Yousafzai com Christina Lamb (Companhia das Letras/2013).
Sobre a destemida menina Malala e sua corajosa jornada que a fez partir do vale do Swat ao norte do Paquistão à tribuna das Nações Unidas em Nova York.
Aos 16 anos, a ativista se transformou em símbolo global de protesto pacífico e, em 2014, tornou-se a mais jovem vencedora do Nobel da Paz.
Ocorre-me o termo: talibãnização.
Existe essa palavra para definir um governo, um regime, uma região, um país?
Acho que ouvi qualquer coisa nesse sentido por esses dias…
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Quatro anos sem Belchior
Foi ontem. Mas, deixei a referência/homenagem para hoje, devidamente alertado pela leitora Viviane Jobim. Aqui, um momento especial na vida de dois cearenses extraordinários. Confiram!
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VERONICA PATRICIA ARAVENA CORTES
1, maio, 2021Que bonito!