Hoje é dia de São José, 19 de março.
Logo que saí de casa, minha mãe lembrou a data.
— Reza para São José já que você não vai mais à igreja mesmo. Reza para São José, filho.
Mãe é mãe – só muda mesmo de endereço.
E ainda bem que é assim.
A observação da Dona Yolanda me remete aos idos dos anos 80 e 90. Diariamente, lá estava eu na igreja São José do Ipiranga a repartir, com o Padroeiro, dúvidas, eventuais tristezas, orações e sonhos – que não paro de sonhar por nada neste mundo.
Não que fosse um desses católicos fervorosos.
Estudei em colégio marista, é certo. Mas, confesso, não tenho lá grande vocação — ou vocação qualquer – para a santidade. À época, tentava unir o útil ao agradável quando me achegava todos os dias na igreja da rua Brigadeiro Jordão.
Fácil explicar.
Meu filho – então, garoto – estudava no Colégio Rainha dos Apóstolos, na Vila Monumento. Entrava às 7h15. Eu o levava logo cedo e poderia chegar a Gazeta do Ipiranga por volta das 8h30, 9 horas que era bem chegado. Para passar o tempo, aproveitava esse intervalo de tempo para uma caminhada de 30 minutos no Clube Atlético Ypiranga e uma paradinha básica na São José. Me sentia ótimo o resto do dia.
Outro período em que ia sempre à São José foi o início desta década. Convidado pelo padre Antônio Brito, passei a editar o jornal O Carpinteiro, de cunho evangelizador e ampla atuação social. Era o porta-voz da igreja São José e durou enquanto o Padre Brito esteve a frente da paróquia, a mais antiga do secular bairro do Ipiranga.
Foi uma experiência que tenho orgulho de ter vivido.
O jornal chegou a ter uma tiragem de 100 mil exemplares – e notáveis amigos puderam colaborar com reportagens e artigos.
Gosto de lembrar a força que o Padre Brito sempre nos passou e a coragem com que enfrentou os diversos desafios para tocar os projetos sociais. Ele os implementava e saía à cata de patrocinadores para que os projetos dessem frutos e atendessem ao maior número de pessoas possível.
Um empreendedor, como poucos.
— Somos criatura de Deus. Ele espera o melhor de nós.
A frase ainda ecoa em meus ouvidos, aliás. Sempre que as pernas e a vontade falseiam diante de um obstáculo, sei bem onde buscar apoio.
Faz tempo que não vejo o Padre Brito. Sei que a Congregação o chamou para novos trabalhos – e, como era de se esperar, ele está se saindo muito bem. Mas, sinto falta da sensatez que sempre demonstrou em suas decisões e das valiosas lições de vida.
Hoje, gostaria de ouvir o Padre Brito falar sobre São José, como naqueles bons tempos. Pai do Menino Deus. Esposo de Maria. Um homem rude. Humilde carpinteiro que se casa com uma jovem mulher e consegue entender o intrigado mistério da concepção divina.
Um homem de fé que acreditou nos sonhos reveladores. Sempre. Da maternidade de Maria à fuga para o Egito, mudou de planos a pedido dos Anjos do Senhor que lhe apareceram enquanto dormia.
São José está presente em todo o primeiro período de vida de Jesus. Depois desaparece dos textos sagrados, sem deixar vestígios. Sem dizer uma só palavra. Sem autoproclamar coisa alguma. Desempenha a missão suprema, quase anonimamente — e é preterido pelos arautos e pelos próprios contemporâneos.
A única citação biblíca o define como “um homem justo”. Admirável em todos os aspectos. Não precisou de nada mais para cunhar sua marca na História dos Homens e dos Céus.