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Saudades. Ano 6

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Foto: Arquivo Pessoal

Manhã ensolarada de outono.

Tem 6 anos – hoje, dia 5 – que a Dona Yolanda “viajou fora do combinado”.

Tinha 90 anos.

Eu diria que partiu contrariada.

Porque amava a vida no particular e no geral.

Era fonte de amor!

Amava os filhos (tinha lá suas broncas, mas amava).

Amava incondicionalmente os netos e os bisnetos, todos – estes não tinham defeitos.

Amava e rezava por eles…

Ou seja, por nós!

(Era devota de Santo Antônio – mas, na hora da aflição, apelava para Nossa Senhora e todos os santos).

Dizem que escrevo muito sobre o Velho Aldo, meu pai – e quase nada sobre minha mãe.

Não concordo.

(Mas, não discuto, pois o leitor tem – quase sempre – razão.)

A vó Landinha, que a netaiada tanto paparicava, também já foi protagonistas de boas histórias que lhes contei.

Era uma figuraça assim como o pai que se foi em setembro de 1999, dia 1°, no exato dia em que completariam 56 anos de casado.

– Me aprontou mais esta, o malandro, disse a mãe horas depois dos funerais.

Saudades infinitas de ambos.

Certa vez, alguém me perguntou qual a primeira lembrança que tinha de minha mãe.

Custei a lembrar.

Talvez fosse a dos domingos de Páscoa, quando ela nos acordava de madrugada, para acompanhar a procissão do Encontro de Maria com Jesus Ressuscitado. A família tinha que estar na igreja da rua Mazzini pontualmente às 4 da manhã.

Ou seria a moça de cabelos levemente cacheados, com ar desesperado, a socorrer o garoto que tentou subir e derrubou a escada do pedreiro  estilhaçando com ‘a arte’ e o tombo os vidros da grande janela da sala? Que susto!

Ou ainda a mãe zelosa – e algo orgulhosa – tentando convencer o filho a posar para a fotografia ao lado das irmãs? Eu fazia manha, e chorava que só com um boné de feltro azul-marinho com abas caídas a proteger as orelhas e esquentar o cocuruto. Causei um escândalo.

Enfim…

Dia desses, rompi o isolamento social para comprar pão na padaria, aqui, perto de casa.

Mesmo com a inefável máscara, fui reconhecido pelo rapaz que atende na cafeteria.

– Olá, o Sr. está bem? Lembro-me sempre da sua mãe. Vocês vinham aqui aos sábados tomar o café pela manhã. Ela pedia um, depois outro cafezinho. Parecia tão feliz. Era  boazinha, né?

Não era bem assim.

Mas, fiquei tão surpreso e emocionado que sequer pude lhe agradecer.

Ou desmentir só um pouquinho.

A Landinha tinha lá seus repentes. Mas era, sim, uma velhinha do bem, e feliz.

Hoje somos nós que rezamos por ela!

” Ó… Isso, sim, que é música!” – ela diria.

A expressão “viajou fora do combinado” é marca registrada do apresentador Rolando Boldrin. Nas manhãs de domingo, o programa da mãe era em frente à TV: a missa transmitida da Basílica de Nossa Senhora Aparecida, o programa da Inezita Barroso (Viola Minha Viola) e o Sr. Brasil, com Rolando Boldrin…

Outra das histórias da Dona Yolanda

O que faltou dizer…

 

1 Response
  • LUCIANA GOMES REIS STIPP
    5, junho, 2021

    Muito lindo este amor pelos pais!

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