Foto: Arquivo Pessoal
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Gosto de futebol.
Desde que me entendo por gente – se é que posso me credenciar a tal condição – o futebol fez parte do do divertido perrengue que é minha modesta existência.
Tem dia que acho que exagero nesse apego.
Poderia ser mais suave, menos invasivo e dominador.
Palmeiras, futebol, Palmeiras, futebol…
“Ah, tem jogo do meu Palestra. Mas, vou ao cinema ver o filme que conta a história da Gal Costa.”
Sabem quando? Nem pensar.
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Se bem que, para ser sincero, eu sempre gostei mais de jogar do que assistir ao futebol.
Digamos que fui um quarto-zagueiro esforçado – e, vá lá, competente – de bons times da várzea paulistana. Cito de memória alguns:Estrelas dos Boêmios, o Huracan da Várzea do Glicério, o infantil do Santos do Cambuci, o Sucatão do Clube Atlético Ypiranga, sem falar de outros tantos catados e ‘balas-misturas’ da vida.
Joguei bola dos 10/11 anos até os 55/56, por aí.
Estreei na ponta-esquerda do infantil Botafoguinho da Aclimação (mais conhecido como o time do João Bicudo, o técnico), na ponta esquerda. Entrei nos últimos cinco minutos, num campo de terra nas imediações do Aeroporto de Congonhas.
Inesquecível.
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Conversava sobre isso, dia desses, na barbearia do Joel em São José de Barreiro quando recebo o convite de um simpático senhorzinho que acabara de conhecer (e mal gravei o nome):
– Não seja por isso, disse o homem. – Todo o fim de tarde a gente se reúne para um bate-bola de veteranos lá no campo da cidade. Aparece lá.
Agradeci a gentileza, mas declinei o convite.
Primeiro porque só agora estou conseguindo me livrar da minha famigerada e crônica dor nas costas. Vulgo lombalgia. Ou vice-versa.
(Faço fisioterapia e acupuntura, direto e reto.)
Segundo porque parei de jogar lá se vai um bom tempo.
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O último jogo também me é inesquecível.
Foi numa Copa Nike da Imprensa.
Meu filho era o goleiro do time do Diário do Grande ABC. E eu fui de contrapeso, graças à regra do torneio: inscrever ao menos um jogador com idade acima de 35 anos.
Eu tinham digamos, vinte anos mais do que 35 exigidos pelo regulamento.
Era um jogo eliminatório .
(Não lembro quem era a equipe adversária.)
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Já na apresentação dos documentos de identidade, um espanto generalizado em nosso vestiário.
Alguém da organização do torneio conferiu em voz alta os RGs dos atletas-participantes.
Todos começavam por dois dígitos. Tipo: 20 mil e tanto, 30 mil e bolinha.
Só o meu era 4 mil e quequerecos.
Algo constrangedor, diria.
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Na entrada da quadra de society, outro baque.
Reconheço um colega dos tempos da faculdade. Joãozinho, que fazia cinema na ECA.
Ficamos felizes pelo reencontro.
Ele estava lá para ver jogar a turma da redação onde trabalhava:
“Vim dar uma força pra moçada.”
E eu? – perguntou um tanto debochado ou tanto distraído (pois, eu já estava devidamente paramentado com o uniforme do time), era o técnico do DGABC ou só viera ver o meu filho jogar?
Nem respondi.
Assimilei o golpe em silêncio.
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Entrei no segundo tempo – e tive, digamos, uma atuação protocolar.
Não brilhei, mas também não comprometi.
O jogo terminou empatado.
Foi para a decisão por pênaltis.
Me encarreguei da primeira cobrança.
Confiante, bati no canto – e fiz o gol.
Em meio a comemoração da turba, ouço um torcedor gaiato gritar eufórico:
— Boa, Sean Connery!
Quanta honra! Só um detalhe me preocupou: eu não jogava com a camisa 7, menos ainda com a 007 e, à época, o notável ator já se encaminhava para os 80 anos.
Aí, não dá, né?
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Resolvi parar sem volta olímpica e sem jogo de despedida.
Estava mais do que na hora.
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* Não preciso dizer, mas digo: fui ao Allianz Parque ontem à noite. Um arraso o meu Palmeiras. Atropelou. 5×0 em cima do Tricolor. Uma baile. Imensurável alegria. Futebol é paixão. Enfim, amigos, diria aos moldes do notável Rubem Braga quando definiu o amor, “no meio de tudo isso, fora disso, através disso, apesar disso tudo — há o futebol. Avante, Palestra!
O que você acha?