Foto: Arquivo Pessoal
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Não são só ladrões os que cortam bolsas ou espreitam os que se vão banhar, para lhes colher a roupa; os ladrões, que mais própria e dignamente merecem este título, são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor, nem perigo: os outros, se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam.
Diógenes, que tudo via com mais aguda vista que os outros homens, viu uma grande tropa de varas e ministros de justiça levavam a enforcar uns ladrões, e começou a bradar:
“LÁ VÃO OS LADRÕES GRANDES ENFORCAR OS PEQUENOS.”
Ditosa a Grécia, que tinha tal pregador!
E mais ditosas as outras nações, se nelas não padecera a justiça as mesmas afrontas.
Quantas vezes se viu em Roma ir a enforcar um ladrão por ter furtado um carneiro, e no mesmo dia ser levado em triunfo um consul, um ditador por ter roubado uma provincia!
E quantos ladrões teriam enforcado estes mesmos ladrões triunfantes?
De um chamado Seronato disse com discreta contraposição Sidônio Apolinar:
Non cessat simul furta, vel punire, vel facere.
Seronato está sempre ocupado em duas coisas: em castigar os furtos, e em os fazer. Isto não era zelo de justiça, senão inveja.
Queria tirar os ladrões do mundo, para roubar ele só!
PADRE VIEIRA, em Sermões.
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