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Sob domínio do rock

Para mim, parece óbvio.

Na curva dos 50, posso falar de cátedra, o rock hoje não existe como estilo musical, tantas e tais foram as influências que recebeu (e gerou) nesses, digamos, meio século de existência.

Em plagas tupiniquins, então, o que dizer.

Vocês, caríssimos leitores, acham mesmo que, no tal País da miscigenação, o rock-rock resistiria, puro e belo, por muito tempo ao tam-tam dos tambores?

Bastou um ser híbrido entre o samba e a bossa-nova, chamado Jorge Duílio Lima de Menezes, vulgo Jorge Ben, invadir os palcos da Jovem Guarda para que o estrago fosse feito. Diria que ali, naquelas jovens tardes de domingo, nasceram a parceria com Erasmo Carlos (“Menina Gata Augusta”) e o Reino Unido do Samba Rock.

Houve resistência, é claro.

Os puristas da MPB, entre os quais a cantora Elis Regina, expurgaram o compositor carioca da chamada elite cultural – ele não pôde mais participar de O Fino da Bossa, programa comandado por Elis Regina e Jair Rodrigues.

Mas, foi por pouco tempo esse racha.

No ano seguinte, o Tropicalismo, dos baianos Gil e Caetano, determinou a geléia geral de versos, ritmos, comportamentos e afins.

Sob o tacão da ditadura, a MPB bebeu da fonte roqueira, incorporou a guitarra e os cabelos longos e desgrenhados.

Fez mais: promoveu a diversidade, o vale tudo.

Derrubou fronteiras.

Tanto que na década seguinte, o rock incorporou a baianidade de Raul Seixas, tergiversou com a ruralidade de Sá, Rodrix e Guarabyra, eletrificou o cordel pernambucano, experimentou com Walter Franco, filosofou com Belchior e caiu na gandaia com os Novos Baianos.

Os anos 80 saudaram o rock tupiniquim como o hit do momento. Rita Lee zoou bonito e reinventou o rock, com apelos de marchinha carnavalesca. Um estrondoso sucesso. E vieram Lulu, Legião, Paralamas, Kid Abelha, Barão e Cazuza, Cazuza, Cazuza – talvez a mais emblemática figura roqueira da década.

Chegar nos 90 foi um sufoco.

Não há mais limites – e a indústria do showbizz prefere outros gêneros. Mas, como segurar as arrebentações do Mangue Beat (que é moda entre os intelectuais, mas não chegou às rádios), o skank (que bebe da MPB e do reggae), dos tais Hermanos (que são e não são), do rappa (que é outra história). De Cássia Eller, que é visceral como Maysa, transgressora como Cazuza; mas única e indefinível.

Enfim…

Há 50 anos o mundo vive sob a égide do rock in roll. Ninguém entre 8 ou 80 anos, de alguma forma, conseguiu escapar dos acordes 4×4 (é isso?), do som estridente de um solo de guitarra, da transgressão de ser o melhor dos iguais, a rebeldia bem-vinda de ser jovem. Eternamente jovem…

É algo tão presente quanto etéreo na vida de todos nós.

Por isso, o livro reportagem resolveu investigar a história desse fenômeno no Brasil, a terra do samba, da bossa nova, do maracatu, da diversidade cultural.

Uma diversidade hoje impregnada de rock. Influenciou e, óbvio, se deixou influenciar. Nunca saberemos quem prevaleceu se o vice ou se o versa?

Mas essa presença é indiscutível.

Quando essa garotada me propôs o tema, fiquei super-feliz. O assunto é mesmo apaixonante e infindo. E cada um deles, percebi logo, me trouxe um olhar diferente sobre o rock in roll.

Melhor: descobrimos que há tantas e tantas formas de cantar e dançar o velho/novo ritmo. Descobrimos que mistérios há de pintar por aí.

Foi um prazer enorme percorrer, ao lado de vocês, esse trecho – importante, creio – desta longa e sinuosa estrada chamada vida.

Não seria exagero dizer que viver – e ser feliz — é mesmo um desafio roqueiro.

Nosso ícone Tony Campello, que o diga e nos ensine…

Amém.

* Prefácio do livro Rock Made in Brasil – Impressões e Fragmentos.