"Eu (não) fui…"
01. A Economia dá sinais de recuperação neste início de ano, um janeiro ensolarado onde comércio e indústria comemoram felizes depois do natal, coisa rara de acontecer. As boas vendas surpreendem e projetam um ano mais equilibrado, com menor taxas de juros, mais abrangência para o crédito e uma melhora acentuada para o setor produtivo. Especialistas apontam o setor da construção civil como a bola da vez para futuros investimentos, mas fazem a ressalva de que é preciso importar menos e exportar mais. Dizem mais: quando o País puder abrir mão das lufadas de ar renovado do capital estrangeiro, é sinal de que retomamos o rumo certo de um futuro promissor.
02. Seria oportuno que todos esses indícios de um Brasil melhor não ficassem unicamente no discurso das autoridades econômicas ou mesmo nas manchetes dos noticiários da mídia. Vale sempre destacar que aqui, ao rés do chão, onde a vida verdadeiramente acontece, não chegaram sequer os primeiros ventos dessa nova era. Ainda vivemos aos sobressaltos com a questão da segurança pública — a prioridade das prioridades — e as outras metas anunciadas em campanha pela mão espaldada do Governo FHC: habitação, emprego, saúde e educação. Nunca é demais relembrar que isso aconteceu em 94, quando o príncipe dos sociólogos elegeu-se pela primeira vez.
03. O leitor, por certo, há de questionar: o tucanato é useiro e vezeiro em proclamar boas novas aos quatro cantos, sem que se tenha o resultado social de toda essa discurseira? Sempre que o presidente viaja, os assessores preparam um belíssimo pacote de informações e alvíssaras de que país modelar é o nosso Brasil para uso e aplausos nas lides internacionais. Por isso, é justo arregalar os olhos do bom-senso. O brasileiro, aliás, de uns tempos para cá, ficou igual aquele garoto que ficou estrábico porque a mãe mandava que ele, todos os dias, cuidasse do gato e da sardinha…
04. De qualquer forma, é melhor mesmo que comecemos o ano, o século e o milênio de uma forma mais positiva. Claro que não há como deixar palavras e promessas nos tolde a visão do que está por vir. Sejamos, pois, otimistas na ação e céticos no pensamento. Problemas, sempre os há. O melhor é enfrentá-los, resolvê-los, antes que dêem origem a outros e outros e mais outros.
05.O País precisa de nossa ação renovadora. Da nossa participação crítica, consciente. Cidadã. Ainda nesta semana um amigo me chamou atenção para o quanto o jovem brasileiro vem sendo achatado naquilo que lhe é mais presente: educação, artes e entretenimento. E citou esse pasmacento Rock in Rio como o melhor exemplo do vazio cultural que ora vivemos. É, companheiro, fico meio desacorçoado quando vejo coisas desses tipos. Um País que tem a música popular mais rica do mundo. Que é influência para todos os grandes instrumentistas do Planeta. Um País, como esse, pagar milhões e milhões de dólares para jurássicas atrações internacionais, cuja canções não vão além de três acordes, é de doer, cara. Parece que nunca vamos nos livrar do complexo de inferioridade do tempo do Brasil Colônia, quando os portugueses nos davam pedaços de espelhos quebrados, berloques e outras tranqueiras e levavam, com a nossa conivência, todo o nosso ouro e pedras preciosas.