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Sobre jornais de bairro…

Recebo o honroso convite de uma ex-aluna, Ana Castro, para participar amanhã à noite de encontro com grupo de jovens para falar da minha experiência em jornais de bairro, onde trabalhei durante 28 anos ou “uma vida”, como diz Dona Yolanda, minha mãe.

Ela faz doutorado na Universidade de São Paulo e, ao que pude entender, desenvolve pesquisa na área de comunicação comunitária.

Não tenho acompanhado a realidade dos jornais de bairro hoje. Quando saí da velha redação de piso assoalhado em meados de 2003, eu já fazia severas críticas à ausência de função editorial e a alguns equívocos administrativos que aqueles novos tempos consagraram. Pelo pouco que pude ver de publicações recentes, essa situação se agravou em razão de vários motivos e outros tantos descaminhos. A concorrência das redes sociais, por exemplo, é um destes. A perda de leitores dos veículos impressos é outro.

Mesmo assim – e acompanhando o trabalho de alguns estudantes junto à comunidade mais humildes e periféricas -, fiquei feliz ao notar que, nesses segmentos, toda e qualquer publicação impressa – seja mural, seja boletim, seja tablóides – é sempre aplaudida com entusiasmo e muito bem-vinda.

Eles se sentem mais representados.

No fundo, no fundo, penso que, mesmo com todos os avanços e as mudanças, a essência do fazer jornalístico (valorização do homem e das transformações sociais) permanece intacta.

Já escrevi sobre, mas creio que não seja demais repetir a breve história que bem ilustra tal essência.

Numa das 1.456 sextas-feiras que cheguei à redação de Gazeta do Ipiranga – dia em que o jornal circula -, uma das repórteres me avisou que um senhor havia me procurado por três vezes. Não deixara o nome. Dissera apenas que precisava falar com o RCM – minhas iniciais, com as quais assinei uma coluna por mais de 20 anos; uma mistura de crônica com o que os antigos chamavam de ‘artigo de fundo’.

Minutos depois, ouço uma voz embargada do senhor ao telefone. Ele me comove com o que diz: o texto que escrevi naquela jornal havia lhe emocionado porque falava de um Ipiranga e de um mundo que não mais existem. Tinha 91 anos e morava sozinho. De alguma forma, sentia-se abandonado pela família, e tinha no jornal de bairro o companheiro que o visitava todas as sextas sem ‘furos’, nem desculpas. Coisa que os filhos não faziam.

Quase sempre o esqueciam, sem cerimônia e constrangimentos.

Foi uma manhã inesquecível. Uma lição de vida.

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