Eu estava na fila do caixa eletrônico no dia seguinte ao jogo em que o Barcelona se sagrou campeão da Europa e reparei que um garoto (devia ter uns 12 anos se tanto) argumentava com o pai sobre a frustração de não ver o Manchester United com o título. Ele usava a camisa vermelha do time inglês – e se dizia inconformado.
— O juiz não deu cinco pênaltis. Fala a verdade, pai. Foi roubado, não foi?
O pai ria e brincava com o filho.
— Eles ficaram com medo de enfrentar o Tricolaço em dezembro, no Mundial de Clubes. Foi isso. Só isso…
A brincadeira/discussão continuou. O garoto sempre a defender o Manchester e a dizer o nome dos jogadores como se fossem próximo a ele.
Pelo que pude notar, via TV a cabo, o tal era fanático pelo clube inglês.
Nem São Paulo, nem Palmeiras, nem Corinthians, nem Santos.
A ferinha era torcedor de Cristiano Ronaldo, Tevez, Roney e Cia.
II.
Desde o fim do ano passado, meu sobrinho Zé Carlos preparou meticulosamente o presente de aniversário de quinze anos do filho Nico.
Foi mais do que necessário.
Sabe o que o meu sobrinho-neto pediu?
Torcedor do Milan, tudo o que ele queria era ver, no estádio de San Siro, ao vivo e com todas as cores possíveis e imagináveis, o clássico de Milão: Milan x Internacionale.
Foi o que aconteceu em meados de fevereiro.
Nico, como veem na foto, virou um tifosi milanista.
(E hoje deve andar tristinho com a venda de Kaká para o Real Madrid. Mas, restaram Beckhan, Ronaldinho Gaúcho, Pato, Prilo, entre outros.)
III.
Conto essas duas historinhas, me permitam, para retomar o assunto de ontem.
A secura de gols do jovem Keirrison.
A torcida do Palmeiras, que é chatinha por natureza, vem pegando no pé do rapaz.
Que, por sua vez, parece ausente dos jogos.
IV.
Minha tese para o fato vai na linha do que lhes narrei acima.
Afinal, Keirrison é um garotão de 19 anos.
Os olhos, a mente e o coração do bom atacante que ele é estão voltados para o Velho Continente. Para um Real Madrid, para um Barcelona, para um Milan…
Viver é melhor que sonhar, ensina a canção.
E Keirrison quer vivenciar os sonhos que lhe anunciaram.
V.
Eu diria mais.
Ele nem tem culpa de, imagino, assim pensar.
Quando saiu do Coritiba, com fama de artilheiro, todos ao seu redor lhe acenaram com esse futuro de glória e euros. Desde os próprios empresários à Traffic que é dona dos tais e milionários direitos federativos. Todos o incentivaram a vir para São Paulo para valorizar-se mais e mais.
Mesmo os dirigentes do Palmeiras, quando o contrataram, sabiam que seria uma passagem fulgás. A previsão é que ficasse, quando muito, até o final deste ano.
Mas, se tudo desse certo, na janela de julho, ele caía fora.
VI.
Keirrison saiu matando a pau, fazendo um gol atrás do outro.
E o Palmeiras passou a depender do artilheiro.
Aí houve uma mudança de planos.
(Dizem que o Barcelona ofereceu 25 milhões de dólares por ele. A Trafic rejeitou.)
Mas, desconfio, esqueceram de lhe avisar.
Se o avisaram, o fizeram tarde demais.
VII.
Até inconscientemente, ele se deu por satisfeito por ter cumprido rapidinho as metas que lhe propuseram: ratificar que era bom mesmo e confirmar o que dele se esperava.
Digamos que, a partir daí, deu uma relaxadinha básica à espera do propalado final-feliz.
Que, para ele, não era exatamente ser campeão paulista ou qualquer outro título abaixo da linha do Equador.
VIII.
Aliás, no domingo, sobre o craque, ouvi o seguinte comentário de um palmeirense:
— A melhor coisa que você faz quando se vende um carro é entregá-lo logo ao novo dono. Se você fica andando com ele pra lá e pra cá, pode acabar levando um baita prejuízo.
É, como dizem pela aí, qualquer coincidência é mera semelhança…