Não vá o sapateiro além das tamancas.
É um ditado antigo, dos meus tempos de Cambuci, quando ainda existiam sapateiros e tamancas que os próprios sapateiros faziam.
Lembrei da recomendação ao ouvir a história divertida que o amigo Salles ontem me contou.
Certa ocasião, lá no início dos anos 90, ele levou uma moça a um barzinho na Vila Mariana, onde se apresentava um certo Chico César, garoto ainda em início de carreira.
Ao ouvir as primeiras canções do moço, que se fazia acompanhar apenas do violão, Salles foi contundente no comentário, feito mais para impressionar a moça do que por entender de MPB:
— Que história é essa de ‘mama África’, ‘Casas Bahia’? Cantando essas músicas, esse rapaz não vai a lugar nenhum. Ainda mais com esse cabelinho que parece um repolho…
Meses depois, Chico César era um sucesso nacional.
Toda vez que a moça encontrava com o Salles era inevitável relembrar a história.
E o meu amigo virara motivo de piada entre os presentes.
Lembro de outro prognóstico definitivo de outro amigo, o Nasci.
Fomos à inauguração de uma casa de comidas árabes, lá no Ipiranga, em uma noite pra lá de acalorada.
O restaurante lotado de convivas – e curiosos.
Eis que uma súbita pane na coifa faz com que o salão onde nos encontrávamos se encha de fumaça gordurosa.
Nasci, como só e acontecer, foi conclusivo.
— Depois dessa falha, a birosca não emplaca três meses. Querem apostar?
Não apostamos – e perdemos.
Se não me engano, por esses dias, o tal restaurante deve estar completando 30 anos de funcionamento!
Bem, como os caríssimos leitores sabem, não sou lá de fazer vaticínios.
Me arrisquei algumas vezes, é fato.
Errei feio quando entrevistei a jovem promissora Diana Pequeno.
Escrevi que, muito breve, a baiana seria a melhor cantora do Brasil.
Reparem. A MPB tem sido generosa com as cantoras.
Mesmo assim não tenho notícias da moça há 30 ano – o que lamento profundamente.
** FOTO NO BLOG: Lago de Commo, Itália (arquivo pessoal)