01. Não sei para onde as coisas caminham — disse em tom de desalento. Mas, pode acreditar, não há dúvida que caminham. Paradas, companheiro, é que elas não ficam. Logo saiu de cena a cantarolar baixinho um velho samba do Paulinho da Viola que diz: "As coisas estão no mundo, só é preciso aprender."
02. Nunca o tinha visto antes, e acho difícil que voltemos a nos encontrar. Estávamos numa das alamedas de um grande shopping center. O acaso nos colocou diante de uma televisão que resplandecia em sua caixa prateada e tela de nitidez inimaginável (especialmente para quem como eu viu os primeiros televisores da marca Olímpicos equilibrarem-se em quatro pés palitos que desafiavam qualquer lei da gravidade).
03. Esse mesmo acaso fez desfilar a nossa frente o espanto e a resignação de um bairro inteiro da vizinha cidade de São Bernardo. Toda a população — moradores, comerciantes e até mesmo uma conceituada faculdade de engenharia — guardou luto pela morte de um dos líderes do tráfico local. Nem mesmo a posterior ação da Polícia Militar fez com que a rotina voltasse àquela região. E um dos comerciante ainda referendou a lei vigente: com a gente que mora aqui, eles não mexem…
04. A que ponto chegou o País, refém dos ditames neoliberais e da globalização exacerbada. Para onde foram os compromissos sociais da mão espalmada do candidato que tinha o discurso do mundo contemporâneo? Saúde, trabalho, habitação, alimentação e segurança, cadê? É a paciência do povo brasileiro que anda verdadeiramente no limite.
05. Não tive como não concordar com aquele senhor. Ainda ruminava essa história quando fui surpreendido com outra notícia: a do submarino nuclear russo, preso no fundo do mar com remotas chances de socorro para a tripulação. Imaginei o País à deriva e tive a estranha sensação de quem espera por equipes de socorro que não chegam. Tentei cantarolar o tal samba. Mas, sem saber a letra, só me restou a conclusão de não saber para onde as coisas caminham…