Platão escreveu.
Jorge Luis Borges adaptou para O Livro dos Sonhos que consulto como se fosse um oráculo.
(Talvez o seja mesmo…)
Tento aqui uma interpretação livre, direta.
Adormecer é permitir que a ‘alma’ liberte-se do corpo (ou da imagem exterior que temos e preservamos) e vague noite adentro por caminhos que bem escolher.
Quando fechamos os olhos, liberamos essa rota de fuga.
O simples ato de fechar os olhos acalma e aquieta movimentos e aflições.
Assim, em paz, advém o sono.
Se o repouso é completo, “um sono quase sem sonhos se abate sobre nós”.
De outro modo, nem sempre conseguimos, mesmo ao dormir, domar medos e desejos, frustrações e expectativas. Sentimentos esses de múltiplas naturezas que reaparecem em imagens de diversos tipos e intensidade, que se assemelham ou não às que nos são conhecidas da vida real “e das quais conservamos alguma lembrança ao despertar”.
II.
Sobre o teor de profecias que, dizem, os sonhos possuem, Borges transcreve um trecho de ‘História Del Nuevo Mundo’, de Bernabe Cobo:
Huayna Cápac vivia em uma aldeia que foi dominada pela pesta.
Com medo de infectar-se Huayna Cápac fugiu para as montanhas e encerrou-se em uma gruta.
De lá não saía para nada.
Em uma noite, em que estava à beira do desespero, ele adormeceu e sonhou que três anões lhe diziam:
— Inca, viemos buscar-te!
Ficou ainda mais confuso, e assustado.
Mesmo assim, voltou a dormir.
Sonhou que o oráculo de Pachacámac lhe ordenava sorridente:
— Inca, ponha-se ao sol!
Huayana Cápac tranquilizou-se.
Imaginou que era o fim do isolamento.
O recomeço da vida.
Saiu o inca ao sol e, em seguida, morreu.
*FOTO NO BLOG: Bariloche/aquivo pessoal