Um dia antes de celebrar o 460º aniversário, a Metrópole tem uma tarde a exibir seus contrastes: enchentes, ônibus incendiado, protestos e saques.
Nenhuma novidade, diz o amigo de ocasião que comigo divide o espiar do tela da TV da loja de departamento, onde esperamos a chuva passar.
Insiste no comentário, ar desolado e cético:
– É o que se vê hoje e, de resto, o ano todo: a grandeza da cidade dos contrastes.
Lembra um verso de Sampa, do baiano Caetano Veloso:
“Pois é o avesso do avesso, do avesso, do avesso…”
Como por encanto, o noticiário muda de tom. Anuncia as festividades programadas para os quatro cantos da cidade.
“A São Paulo de todos os povos”, diz o apresentador.
Comemorar o quê? – repete o senhor, mais para si próprio do que para entabular conversa com quem quer que fosse.
E arremata, em tom professoral:
– Nada, nem ninguém fica impune a tamanho gigantismo, ao descontrole e à inépcia de tantas administrações, tenha a cor política que tiver.
“Não é uma questão de ideologia, é sim questão de competência e, sobretudo, honestidade”, diz olhando para mim e a provocar um comentário qualquer.
Digo a ele que meu saudoso pai sempre dizia que o País – e a cidade – precisava de “um gerentão”.
Nunca entendi direito o que pai pretendia com tal afirmação. Mas era o que eu tinha para o momento.
(Não queria entrar em delongas.)
Sinceramente, em muitos aspectos, compartilho com o desalento do homem.
Difícil vislumbrar novos e bons rumos para o futuro da cidade onde nasci…
Onde há 30 anos vi renascer a esperança de um povo, no comício pelas Diretas Já, em plena Praça da Sé, tomada por uma multidão com bandeiras, cartazes e sonhos a defender a emenda do deputado Dante de Oliveira.
Foi lindo…
Preferi ir embora, enfrentar o que restou do aguaceiro. (Afinal, não sou de açúcar).
Realista no pensamento, determinado na ação.
Nunca esmorecer.
Quem sabe as novas gerações não resgatem o encanto pleno de viver em São Paulo.
Melhor acreditar, e batalhar por isso.
De qualquer forma, por tudo o que aqui vivi e vivo, parabéns São Paulo!