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Sunset Boulevard

Entrei na casa daquela dona por acaso.

Não, minto.

Por necessidade.

Os caras vinham fulos atrás de mim. E os havia enganado há pouco mais de meia-hora, quando bateram na minha porta e cobraram as promissórias. Eu as devia do velho Oldsmobille que comprei numa agência, dessas bem chinfrins.

Ou pagava. Ou levavam o carro. Vieram com uma papelada assinada por um tal de juiz. Eram invocados. Diziam-se oficial de Justiça que iam fazer e acontecer.

Levei a maior prensa.

Não acreditei. Mentiam. Eram capachos de algum ‘bonzão’.

Não perdi o rebolado.

Fiquei na minha. Ouvi calado, com cara de respeito. Demonstrei até um certo temor. Todo mundo gosta de meter bronca. Gosta mais quando sente que está senhor da situação.

Otários.

Dei um ‘migué’.

Quando me deixaram falar, falei.

— Não sei o que dizer, senhores. Não era minha intenção. Perdi o emprego, mas por esses dias pego a indenização e cubro o que devo e já adianto algumas parcelas.

Não entraram na minha conversa. Quiseram saber onde estava o carro.

— Vamos levar a caranga. Você não sabe com quem está lidando…

Não sabia e não queria saber. Mas, continuei na minha. Malandro que é malandro não bobeia…

— Até entendo a de vocês. E lhes dou razão. Só que o carro não está comigo. Emprestei para um amigo que viajou com ele. Sabe como é? Precisava levantar algum para o aluguel que paguei em seguida e não sobrou nenhum. Ando sem tostão. Mas amanhã sai aquele dinheiro, então…

— Amanhã a gente volta e você paga o que deve ou levamos o carro ou levamos você para dar uma volta. Você não sabe com quem está lidando.

Quase respondo:

— Gangsters.

Me segurei.

Olharam para mim, para a espelunca onde morava. Fizeram uma expressão de asco – e foram embora. Sequer fecharam a porta.

Otários…

Dei o troco. Pela janela, vi que os dois caminhavam em direção a um carro preto, Vi quando entraram no carro e se mandaram…

Que treta.

Estava dando mole. Bandeira demais. Sabe como é. Não se deve abusar da sorte. Enfiei a mão no vaso de murano tosco, tateei o fundo e agarrei o molho de chaves. Fiz o ritual em frente ao cabideiro. Paletó, chapéu; quebrei a aba da frente e saí assobiando uma velha canção de Carl Porte: I’ve got under my skin…

Caminhei duas quadras para esquerda. Entrei numa travessa, também à esquerda. Mais uma vez virei a esquerda andei mais duas quadras, saí atrás do meu prédio. Entrei na oficina mecânica do amigo Billy, levantei a lona ensebada que ele me emprestou, do tempo em que era caminhoneiro, e lá estava o bichão. Ano 48. Verde de capota branca e aqueles frisos metalizados.

Lembrei dos ‘bananas’. Otários.

— Acha que ia deixá-los botar a mão nessa jóia?

Segundos depois dava uns perdidos pela cidade no meu belo carro. Assentar as idéias. Vou até a Metro saber se aceitaram o roteiro que escrevi para uma próxima produção. Tomara que sim. E com o adiantamento eu me livro dos caras…

Meu texto tem pegada, ritmo. Um dia a minha carreira tem que zarpar. Preciso acontecer.

Opa. Por falar em caras, o que esses dois marmanjos estão me encarando? Pararam o carro ao lado do meu e querem o quê?

Já sei querem o meu carro. São eles. Esse farol que não abre.

Abriu. Lá vamos nós…

Estavam de campana e agora vêm atrás de mim.

O Chevroletão deles é mais potente. Os caras vão me pegar.

A não ser que…

Vou entrar na Sunset Boulevard.

Passaram direto. Será que os despitei?

Será?

Não. Estão dando marcha-ré. Vão continuar a caçada.

A não ser que…

Uma mansão enorme, com o portão aberto.Vou entrar, foda-se.

É tudo ou nada…

Deu certo.

Consegui despistá-los…

Otários.

Mas, e agora?

II.

Agora…

Bem, meus queridos cinco ou seis leitores, querem saber o final dessa história? Recomendo uma boa locadora. Procurem o DVD, Crepúsculo dos Deuses, com direção de Billy Wilder. Impressionante.

É o melhor filme que assisti…

Impressionante.

Minha indicação para um bom programa neste fim-de-semana

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