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Tarcísio e Paulo

Foto: Instagram/@paulojose_fc

Paulo e Tarcísio se foram…

–  e dadas as malfadas circunstâncias que o Planeta e, mais duramente, este naco de terra chamado Brasil atravessam, nem podemos alegar surpresa com a notícia.

Tristes tempos esses que ora vivemos.

Não há trégua, parece.

Por mais que tentemos nos soerguer das bordoadas diárias, logo vem outra e mais outra e mais outra triste e desalentadora nota.

Paulo José e Tarcísio Meira eram atores admiráveis.

Atores que foram, são e serão símbolos de uma época. No teatro, no cinema, na TV.

Na vida deles e na vida de cada um de nós, os tais e os quais que abençoadamente pudemos vê-los em ação. E, de alguma forma, compartilhamos emoções, sentimentos e encantamentos.

A vida sem o dom da arte seria um equívoco. (Seja para quem faz, seja para quem pode desfrutá-la.)

Ele tiveram trajetórias distintas – mas, igualmente luminosas.

Impossível lembrar Tarcísio Meira – e não citar o personagem João Coragem, protagonista da novela Irmãos Coragens (1970/1971), de Janete Clair.

Desconfio que foi o seu papel de maior repercussão popular.

No caso de Paulo José, por mais sucesso que tenha feito na TV – especialmente interpretando o simpático Shazan que fazia dupla com Xerife (o incrível Paulo Migliaccio), no seriado infanto-juvenil Shazan, Xerife & Cia (1972/1974) -, eu gostava mesmo é de vê-lo na tela do cinema:  Todas as Mulheres do Mundo (1967/direção de Domingos de Oliveira), O Homem Nu (1968/Roberto Santos),  Macunaíma (1969/Joaquim Pedro de Andrade), entre outros.

Foi o grande ator da nossa cinematografia que ainda frágil e desacreditada à época.

Ainda no curso de jornalismo, ouvi de um colega de turma que havia descolado um estágio na Folha de S.Paulo a seguinte lição:

“O cronista precisa estar preparado para escrever sobre tudo.”

E explicou:

“É um especialista em generalidades. Fala do cotidiano, do olhar mais alongado para os detalhes que nem sempre (ou quase sempre) o repórter, refém da objetividade e da pauta, consegue captar. É o canto do jornal onde a subjetividade e a emoção sobrevivem.”

O Marcão – o tal amigo e estagiário – me jurou que ouviu tal ensinamento do notável  Lourenço Diaféria, um dos melhores textos do jornalismo brasileiro, então titular da coluna mais lida da Folha.

“Só de ver o cara escrevendo a gente aprende”, entusiasmava-se o amigo.

Confesso.

Estava relutante para redigir esse post/crônica.

Nesse exato momento, o conceito de “estar preparado”  me soa vago, etéreo, intangível.

Não estou – e, desconfio, nunca estarei.

Recolho um punhado de informações sobre os dois. Procuro lembrar outras que tenha ouvido nas redações por onde andei. Os filmes que vi de ambos, as novelas que acompanhei, as peças de teatro que presenciei…

Enfim,  pretendo minimamente me aproximar ao proposto pelo saudoso mestre Diaféria.

Ao mesmo tempo, creio, é importante (prioritário) reverenciar a memória de ambos.

Deixam um belo legado.

De alguma forma, fizeram com que a gente atravessasse a noite escura da ditadura sem perder a capacidade de acreditar e sonhar.

Inevitável, meus caros, a saudade virá…

… como sempre vem a imensa saudade das coisas que se perderam…

Em tempo

Não assisti a nenhuma produção com Paulo José no teatro. Foi tocante sua participação em O Palhaço (2011), épico filme de Selton Mello e a última vez que vi Paulo em cena.

Que me lembre, só uma vez eu vi Tarcizão no palco.

Foi em meados dos anos 80, na montagem de Um Dia Muito Especial (adaptação do filme de Ettore Scola, de 1977).

Tarcísio contracenava com Glória Menezes.

Para ser bem sincero, recordo quase nada da peça em si.

Lembro apenas que, à saída do espetáculo, um senhor comentou em voz alta e todos ao redor pudemos ouvir:

“Quando vejo o Tarcísio e a Glória juntos, eles me representam a encarnação do amor. Precisa mais?”.

Faz todo o sentido…

 

 

 

 

 

 

 

 

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