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Tchinim e o alvoroço na Vila da Alegria

Tchinim ainda ouviu a recomendação da mãe para que levasse agasalho.

Gostou da ideia.

Levaria o blues jeans que havia ganhado da mana Dorothy.

Iria botar uma banca danada.

Só os artistas de cinema, tipo James Dean, tinham uma jaqueta igual à dele.

Ademais, àquela época do ano, as noites na Vila da Alegria eram frescas, úmidas –afinal, São Paulo ainda era a Terra da Garoa.

Mesmo depois da confusão que causou naquele quase atropelamento (leia post de ontem), gostava de acompanhar a avó, dona Ignês, naquelas visitas.

Sempre haveria o que fazer por lá.

Era época de futebol de botão que os garotos jogavam na calçada, transformando uma placa de compensado (chamavam de Eucatex) em campo de futebol.

Deu meia volta, correu para o quarto e pegou a caixa onde guardava o seu time, formado quase todo ele por celulóides; também conhecidos por tampas de relógio de pulso.

Foi uma noite daquelas.

Venceu todas as partidas que disputou.

Os garotos da Vila olhavam invejosos para o super esquadrão.

Só quando a avó apareceu na porta da casa de dona Pimeta foi que Tchinim se deu conta:

— Tchinim, pega a sua blusa, belo, que vamos embora…

Cadê o blues jeans?

Olhou para os lados – e nada.

Nosso campeão abriu o berreiro.

Começaram as buscas e as suspeitas.

Vistoriaram os quatro cantos da casa da dona Pimeta.

Olharam os becos e cantos da rua.

Lembraram que um dos garotos só viu o primeiro jogo, depois foi embora.

— Será que ele levou o casaco por engano?

Disse um dos presentes, eufemisticamente.

Foi mesmo um salseiro.

— Você não perdeu no caminho?, perguntou a bela Pia Rosa.

Ele sorriu sem graça, e envergonhado.

Seu choro incessante, de algum modo, culpava a todos e a si próprio.

Choro que, aliás, só cessou quando Tchinim entrou em seu quarto – e viu o blues jeans, igual ao do James Dean, largado, esquecido sobre a cama.

Entendeu o fora que dera.

Enquanto a avó dava graças a Santo Antônio e à Madona, a mãe nada entendia, Tchinim resolveu ser prático, como bom descendente de calabrês.

— Vó, promete não dizer nada para o pessoal da Vila, promete, promete?

— Prometo, mas por quê?

— Depois do escândalo que eu fiz, se eles souberem que eu havia esquecido o casaco em casa, eles não me olham mais na cara…

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