Descemos em Zurique quando
passavam poucos minutos
das seis da manhã, hora local.
Teríamos que esperar mais
três horas e meia até pegarmos
o vôo que nos levaria
a Paris, nosso destino.
Constatação fria para um dia
que se prenunciava frio, mas bom.
Todo período de férias quando
se inicia traz um bom presságio –
e este não era diferente
naquele já distante
26 de dezembro de 2003.
II.
Como de costume nessas ocasiões,
viríamos o passar dos minutos
nos saguões do moderno aeroporto
com paredes de vidros. Brinquei que
viveríamos aquelas horas
como se estivéssemos
num imenso e confortável aquário.
Como peixes ornamentais,
ficaríamos a girar na inevitável
rotina das caminhadas a esmo.
Olha-se uma vitrine aqui,
outra ali. Os relógios e os diversos
tipos de chocolate — com aquela cruz
vermelha atarracada, que é o
símbolo da Suíça – são os destaques.
Entre um rodar e outro, lógico
que paramos para o imprescindível
café, servido em xícaras
grandes e amarelas.
III.
Fizemos uma viagem tranqüila,
mas demorada. Foram quase 12 horas.
Dormi pouco. Quer dizer, peguei no sono
muitas vezes. Mas, por breves minutos.
Acordava naquela Babel de sons,
vozes e idiomas. Um menino italiano –
se tem seis anos é muito – tenta
se comunicar com outro garoto
não-italiano, da mesma idade.
Provavelmente, a dupla se conheceu
no avião e, parece óbvio,
tem o mesmo destino: Itália.
— Papa. Pa-pa… Mama. Ma-ma…
Calcio. Cal-cio… Machina. Ma-chi-na…
Tu sei? Capicce?
Bela lição de fraternidade no
primeiro dia daquelas já longínquas
férias – que hoje dei de lembrar
por algum insondável motivo.
Talvez porque – apesar do buraco
negro e da infindável espera –
ainda teimo e acredito no futuro.
E em nós…