Telê Santana completaria hoje 80 anos.
Gostaria de escrever sobre ele.
Como repórter, eu o encontrei duas ou três vezes em entrevistas coletivas sobre jogos que o seu time acabava de realizar.
Ele treinava o Palmeiras que desandou a golear seus adversários no campeonato paulista – e sequer se cogitava o nome do bom-mineiro para a seleção.
Era um homem de poucas palavras. Sério em seus propósitos. Disciplinador. Acabara de afastar do elenco o avante Escurinho que cismava dedilhando o violão na concentração, mesmo depois que as luzes se apagavam para que os craques dormissem.
Não me lembro de ouvir Telê falar em tática, esquemas de jogo, estratégias. Privilegiava os fundamentos do futebol, a rapidez e a objetividade. O jogo coletivo. Em essência, o velho e bom futebol de todos os tempos.
II.
Via-se isso no Palmeiras do fim dos anos 70.
Era uma equipe limitada – o meio de campo era formado por Pires, Mococa, Zé Mário e Jorginho, com Baroninho de ponta-esquerda, entre outros – mas empolgava a sua torcida com partidas memoráveis.
Só perdeu o Paulistão porque se adiou as finais, contra o Corinthians, para depois das férias de fim de ano.
Dizem que foi uma estratégia do então presidente Vicente Matheus.
No final, deu Timão com gol de canela de Birobiro.
Aliás, esse mesmo Palmeiras foi um dos raros times a golear o Flamengo de Zico, Júnior & Cia em pleno Maracanã. 4×1, fora o baile.
Na etapa seguinte do Brasileirão, foi desclassificado pelo Internacional. Empatou em 1×1 no Sul e perdeu no Morumbi por 2×1. O craque Falcão fez um gol e gastou a bola.
Vale lembrar uma curiosidade. Na quarta-feira, antes do jogo em São Paulo, o Jornal da Tarde saiu com uma manchete, no mínimo, provocadora.
O título sugeria uma dúvida. Quem era melhor:
MOCOCA OU FALCÃO?
No dia seguinte, o criativo jornal limitou-se ao óbvio:
FALCÃO, É CLARO.
III.
Pelos idos dos anos 90, voltei a encontrar Telê em uma confraternização de fim de ano no Clube Atlético Ypiranga. Era um encontro anual que a Associação de Técnicos de Futebol do Estado de São Paulo realizava no encerramento da temporada. Além do churrasco, da cerveja, das homenagens, havia um jogo entre o time dos técnicos – naquele dezembro, reforçado pelo zagueirão Oscar – e o catado que representava a Associação dos Cronistas Esportivos de São Paulo, comandado pelo saudoso Sérgio Backlanos, o notável Alemão.
Telê amava futebol, mas não se deu ao trabalho de ver os lances da pelada.
Preferiu ficar nos arredores da churrasqueira, ouvindo os causos do ex- árbitro Oltem Aires de Abreu e a divertir-se com as fanfarronices do amigo João Avelino (Setenta e Um) que resolveu encerrar a partida antes do fim. Temia a iminente derrota dos técnicos.
— O empate é o resultado mais justo. Além do que, a Aceesp está com um jogador a mais em campo.
Telê, então, já era bicampeão mundial interclube pelo São Paulo.
Estava feliz, entre amigos e admiradores.