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Tião das Marmitas, primeiro e único

Tim Maia é fenômeno incomum na música popular brasileira.

Nada deve, em termos artísticos e criativos, aos cultuados grandes nomes de sua geração: Chico, Gil, Caetano, Benjor, Roberto/Erasmo, Bituca, Elis, Nara, Edu Lobo… Quem mais?

Em vida, Tim não teve o mesmo reconhecimento que eles.

O sucesso de hoje – ainda que tardio – é mais do que merecido.

II.

Tim e os tais e mais alguns (Baden, Toquinho, Tomzé, Cassiano, Gal, Bethânia, entre outros) seguraram a bronca nos anos 60 (de efervescência indiscutível) e projetaram o melhor do nosso cancioneiro nas décadas seguintes.

Eu os vejo como o elo de união entre o antes e o depois, a partir do marco divisor da bossa nova.

III.

Não há como entender o que aconteceu (e acontece) em termos musicais no Brasil se não olharmos atentamente para obra da chamada geração de 42 (e arredores – Chico nasceu em 44 e Benjor jura de pés juntos que nasceu em 45).

Pelas lentes sonoras da obra deste pessoal, revivemos (e revigoramos) o legado e os nomes de Noel Rosa, Luiz Gonzaga, Cartola, Nélson Cavaquinho, Tom, Vinicius, João e outros tantos grandes de priscas eras (até então esquecidos).

Se hoje nos nossos meios de comunicação insistem em massificar uma música de qualidade discutível, não é por culpa desses senhores e de seus seguidores.

IV.

Explico a pensata acima.

Assisti na noite de sexta a “Tim Maia – O Filme”.

Impossível não se emocionar, mesmo considerando que a produção tenha ficado abaixo das expectativas deste modesto escriba e dos elogios que ouvi aqui e ali.

Sem entender o contexto daqueles anos, não há como captar a essência dos personagens. Por isso, alguns deles (como Roberto, Erasmo e Carlos Imperial, por exemplo) soaram caricatos em demasia.

O próprio Tim é mais verossímil na interpretação de Robson Nunes (início de carreira, fase em que vai morar nos Estados Unidos); depois (quando passa a ser interpretado por Babu Santana) ganha contornos extremos, como um cara violento e autoritário.

V.

O lado artístico – e mesmo o afetivo – fica em segundo plano.

Para o cineasta, valem as situações limites -os esporros, as broncas, a droga.

Tim Maia, ser humano e artista único, foi bem mais do que apenas isso.

VI.

Não culpo nem os intérpretes, nem o diretor (Mauro Lima).

Esquadrinhar a múltipla personalidade de Tim é um enorme desafio.

É certo que Nélson Motta, autor do livro O Som e a Fúria de Tim Maia (quer serviu de base para o roteiro), chegou bem mais próximo.

Mas, registre-se, Motta conviveu por anos e anos com o cantor. Além do que ele próprio é dessa abençoada e incrível geração (está completando 70 anos), o que lhe confere a condição de entender as loucuras daqueles loucos tempos.

VII.

De qualquer forma, o filme é imperdível.

Não deixe de ver, caro leitor.

E repare como a obra de um verdadeiro artista se sobrepõe ao tempo e às injustiças que lhe fizeram.

Enquanto aparecem os letreiros finais, reparem como a plateia, emocionada, acompanha a trilha sonora e, em voz alta, faz coro com a voz inconfundível do grande rei da soul-music brasileira, o grande Tião das Marmitas, primeiro e único.

Cante junto, mermão.

Solte a voz, e a emoção.

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