A canção tocou no rádio. Algum distraído aumentou o volume – e a voz potente e cadenciada de Tim Maia tomou para si o espaço e a atenção de todos.
O sonzaço interrompeu a conversa da roda em que eu estava. Quase todos jovens. Muito jovens.
Um deles comentou:
– Esse cara era malucão, mas cantava pra caramba!
Tomei para mim a contextualização do comentário.
“Foi um dos grandes da nossa música. Junto com nomes como Caetano, Gil, Chico, Benjor, Paulinho da Viola, Milton, Elis, Roberto/Erasmo… São quase todos da mesma idade, da mesma geração. Uma geração de ouro, cuja a obra perdura ainda hoje ”
– Dizem que ele marcava shows e não ia… Era o rei do cano.
O rapaz insiste no lado de badboy de Tim – e eu em defende-lo:
“A fama não lhe faz jus inteiramente. Deu suas mancadas, sim. Mas, seus shows eram memoráveis. “
Para dar mais ênfase às minhas palavras, lembrei-me de um show que assisti em fins dos anos 80. Uma apresentação que depois virou Especial da TV Globo (com quem o cantor tinha lá suas diferenças) e que se chamou “Tim Maia in Concert”.
O repertório era o de sempre. Os clássicos dançantes: “Vale Tudo”, “Descobridor de Sete Mares”, “Do Leme ao Pontal”, “Me Dê Motivos”, “Dia de Santos Reis” e tantas outras que, ainda hoje, todas as vezes que tocam fazem a rapaziada, de todas as idades, caírem na dança.
Tim parecia estar feliz. Regia os músicos junto com o maestro Lincoln Olivetti, comandava o suingue da turma da percussão, tocou flauta (por uns instantes) e agogô e brincou o tempo todo com a plateia. Provocativo, chegou a se declarar para uma moça nas primeiras filas:
“Ih! Que moça bonita! Que beleza, hein! Casa, comida, roupa lavada, 300 por mês, papeizinhos, tudo em cima… Topa? ”
Logo, desbaratinou:
“Brincadeira, brincadeira…”
Em outro momento, explicou que a música “Sossego” originalmente deveria se chamar “Sossego. E um quilo do bom”, mas, para evitar maiores transtornos com a censura, achou conveniente ‘enxugar’ o título e a letra.
E filosofou, como de hábito:
“Tudo é tudo e nada é nada. ”
Terminei minha fala ávido pelas impressões dos meus caríssimos ouvintes.
Eles, porém, permaneceram em silêncio. Intrigante silêncio…
Até que um deles justificou:
(Desconfio que falou em nome do grupo.)
– É isso mesmo, professor. A gente viu o show no Youtube.
“Ahhh…”, conclui.