Grande Tim Maia!
O síndico da música pra pular brasileira.
Primeiro e único.
Ao lado de Benjor, Simonal e Jairzão,
fez a ‘pretitude’ ter voz e vez – e suingue,
óbvio – no cenário artístico nacional.
Crioulo até então era sinônimo
de sambista. Nada contra o samba.
Ao contrário. Só que não eram apenas.
Sempre foram mais. Muito Mais. A influência
negra é vital para a MPB de qualidade.
Foram os caras, aí de cima,
que deram um basta ao estigma
naturalmente; sem discursos
ou prosopopéias, mas na base do talento
e sobretudo da criatividade.
Depois vieram Gil, Milton, Paulinho,
Melodia, Djavan, Sandra de Sá, Cassiano,
Itamar e outros tais e quais.
Antes deles, na virada dos anos 50
para os 60, Agostinho dos Santos e
Carlos Gonzaga ensaiaram os primeiros
passos. Agostinho, um precursor da bossa-nova.
Voz encaixada entre os acordes. Preferia
a interpretação elegante a soltar o vozeirão,
como faziam os cantores da época.
Gonzaga é um precursor do rock.
Gravou as versões de ‘Oh! Carol’ e “Diana”:
“Vem viver. Pra mim. Diana.”
Quem nunca cantou?
II.
Pensava em contar uma das tantas
histórias malucas do Tim Maia e
me embarafustei nessa cronologia de
nomes importantes da MPB – muitos,
absolutamente esquecidos do grande
público e desconhecidos das novas gerações.
Eu mesmo ia esquecendo
de incluir nesta lista dois maiorais.
Chocolate e Monsueto. Dublés de humoristas e
compositores, eram divertidos e tristes.
Chocolate é autor da melhor definição
de "Saudade" (torrente de paixão,
emoção diferente, que aniqüila a vida
da gente. Uma dor que não sei de onde vem)
e da maravilhosa "Hino à Música".
Monsueto fez entre outras
"Se você não me queria" e "Mora na Filosofia",
pungentes relatos sobre o fim de um amor.
Nomes e canções inesquecíveis
que o Brasil esqueceu.
III.
É voz corrente que vivemos num País
sem memória. Talvez daí esse texto
ganhar forma, embora escapasse
do malajambrado controle do autor.
Há alguns anos colaborei com
a produção de um documentário
sobre a soul music no Brasil.
Jovens estudantes escolheram o tema
para o trabalho de conclusão do curso
de jornalismo. Fui uma espécie de
consultor e pude perceber, em
meio às pesquisas, o quanto a garotada
aprendeu, pois desconheciam quase
tudo desta bela história.
Não culpei as moças. Aliás, como
prefiro não culpar as novas gerações
pela hecatombe musical que ora vivemos.
Os meios de comunicação são impiedosos
em empurrar tranqueiras e mais tranqueiras
goela abaixo da meninada…
IV.
Vishi…
Cá estou eu novamente a fazer
discursos e mais discursos. Paro por aqui.
Até porque meus cinco ou seis leitores
são na maioria jovens e mulheres
e detestam sermões fora de hora…
Voltemos ao começo do texto,
quando prometi falar sobre o síndico,
Sebastião Rodrigues Maia, vulgo Tim…
V.
O cara era gênio. E, como tal, genioso também.
Mil causos comprovam suas inconseqüencias.
Uma delas foi contada pelo músico Nabuco
para a produção do documentário. Ele tocou
na banda Vitória Régia que acompanhava Tim
e a ‘tirada’ é a cara do cantor.
Não resisto em passar a vocês.
É a seguinte…
V.
Tim recebia um grupo pequeno
de amigos em seu espaçoso apartamento.
De repente, ele pede silêncio:
— Estão batendo na porta.
Ninguém ouve nada. Mas, Tim insiste
e diz para uma das convidadas:
— Estão batendo na porta. Vai atender.
Todos apuram o ouvido.
Não há ruído nenhum. Deve ser brincadeira.
Tim repete já algo transtornado:
— Estão batendo, caramba. Vai atender, já falei.
O silêncio aumenta.
Todos arregalam os olhos.
Olham para o cantor e a menina
que, sem saber o que fazer, vai
até a porta, gira a chave, abre e…
— Está vendo, Tim. Não há ninguém…
Visivelmente contrariado, ele responde:
— Também, você demorou tanto
para atender que eles foram embora…